Liberdade de imprensa entra em ‘situação difícil’ no mundo com colapso econômico da mídia

A liberdade de imprensa no mundo alcançou um novo ponto crítico em 2025. Pela primeira vez na história do Índice Mundial da Liberdade de Imprensa, publicado anualmente pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o cenário global passou a ser classificado como uma “situação difícil”. O principal fator por trás dessa piora é econômico: o indicador financeiro do levantamento caiu para seu nível mais baixo já registrado, afetando diretamente a sobrevivência dos veículos de comunicação e sua capacidade de manter independência editorial.

A crise financeira no setor é agravada pela concentração de propriedade da mídia, pela dependência de publicidade digital controlada por grandes plataformas e pela ausência ou má distribuição de subsídios públicos. Segundo a RSF, 160 dos 180 países avaliados demonstram que seus veículos enfrentam dificuldades ou são incapazes de manter estabilidade econômica.

“Sem independência econômica, não há imprensa livre”, alertou Anne Bocandé, diretora editorial da organização. “O setor de mídia precisa urgentemente ser restaurado a um estado favorável ao jornalismo e à produção de informações confiáveis, que são inerentemente custosas.”

jornalista
Imprensa enfrenta desafio para manter o financiamento em 2025 (Foto: Matt C/Unsplash)

Nos EUA, onde o índice econômico caiu mais de 14 pontos em dois anos, o jornalismo local está à beira do colapso. Mais de 60% dos jornalistas consultados em estados como Arizona, Flórida e Pensilvânia afirmam ser “difícil ganhar um salário digno”, e 75% dizem que “a maioria dos veículos luta para se manter economicamente”.

A segunda presidência de Donald Trump agravou esse cenário com cortes abruptos de financiamento para a Agência de Mídia Global dos EUA (USAGM) e para a Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID), afetando centenas de redações — inclusive no exterior, como na Ucrânia.

A falta de financiamento também afeta países como Argentina, Tunísia e Haiti, onde veículos fecharam ou migraram para o exílio. O impacto é ainda mais devastador em zonas de conflito. Em Gaza, quase 200 jornalistas foram mortos e redações foram destruídas durante a ofensiva israelense. Em países como Belarus, Irã, Sudão e Mianmar, o colapso econômico se soma à repressão política. Segundo a RSF, 34 países passaram por fechamentos massivos de veículos nos últimos anos.

As big techs também concentram as receitas publicitárias globais, antes essenciais ao jornalismo. Só em 2024, o investimento em publicidade em redes sociais somou US$ 247,3 bilhões, um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Plataformas como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft dominam a distribuição de conteúdo e dificultam o alcance de veículos independentes, ao mesmo tempo em que amplificam desinformação e conteúdos manipulados.

Em mais da metade dos países avaliados, os próprios donos dos veículos são apontados como fontes de interferência editorial frequente. Em nações como Líbano, Índia e Armênia, os veículos sobrevivem por meio de financiamento condicionado por interesses políticos e empresariais. E mesmo em países com boas posições no ranking, como França, Austrália e Canadá, a concentração de propriedade ameaça a pluralidade de vozes.

No total, mais de seis em cada dez países (112 dos 180) tiveram piora em suas pontuações no índice. Pela primeira vez, menos de um quarto dos países do mundo oferecem condições consideradas satisfatórias para o exercício do jornalismo.

“Sem condições econômicas estáveis e transparentes, o jornalismo de interesse público se torna inviável”, disse Bocandé. “Soluções existem e precisam ser implementadas em larga escala.”

O post Liberdade de imprensa entra em ‘situação difícil’ no mundo com colapso econômico da mídia apareceu primeiro em A Referência.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.