Rússia recebe milhares de trabalhadores norte-coreanos para suprir escassez de mão de obra

Na mais recente demonstração da aliança entre Moscou e Pyongyang, a Coreia do Norte enviou cerca de 15 mil trabalhadores para a Rússia em 2024. O fluxo de operários, revelado por parlamentares da Coreia do Sul com base em informações de inteligência, busca aliviar uma das crises mais agudas enfrentadas pelos russos desde o início da guerra na Ucrânia: a falta de mão de obra. As informações são do The Wall Street Journal.

Com centenas de milhares de mortes no front e fuga de cidadãos ao exterior, a Rússia sofre com um déficit estimado em 1,5 milhão de trabalhadores, número que pode chegar a 2,4 milhões até 2030, segundo o Ministério do Trabalho russo. Os norte-coreanos, que aceitam salários baixos e jornadas de até 12 horas sem reclamações, têm sido cada vez mais procurados por empresas locais.

Kim e Putin durante um encontro no Kremlin em 2019 (Foto: WikiCommons)

A maioria desses operários entrou no país com vistos de estudante e está concentrada no extremo oriente russo. Mas empresários e autoridades já sinalizaram interesse em expandir sua presença para outras regiões, incluindo Moscou. “Quanto mais, melhor”, afirmou Andrei Orlov, dono de uma construtora na capital russa. “Gostaria que minha empresa fosse líder no mercado russo na contratação de especialistas norte-coreanos.”

O envio de trabalhadores viola as sanções impostas pela ONU (Organização das Nações Unidas) ao regime de Kim Jong-un, que proíbem explicitamente o uso de mão de obra norte-coreana no exterior.

Ainda assim, Rússia e Coreia do Norte vêm desconsiderando a restrição, e o presidente russo Vladimir Putin inclusive já criticou publicamente o embargo. “Esses são nossos vizinhos. Vamos desenvolver nossas relações, gostem ou não”, disse ele.

A cooperação entre os países também inclui armamentos e tropas. Pyongyang enviou 12 mil soldados para apoiar o Exército russo em 2023, e outros três mil neste ano. Além disso, a Coreia do Norte forneceu mísseis balísticos, um dos quais matou 12 pessoas e feriu quase 90 em Kiev, em abril, segundo autoridades ucranianas.

Trabalhadores como Zane Han, que atuou em um canteiro de obras russo no final da década de 2010, relatam que pagaram propina ao governo norte-coreano para obter o visto. “Recebia cerca de US$ 150 (R$ 844) por mês”, contou ele, que fugiu para a Coreia do Sul em 2022. “Ficava com medo de ser deportado toda vez que ia ao mercado”, acrescentou, relatando que com o tempo, a polícia russa deixou de fiscalizar os vistos.

De acordo com dados oficiais da Rússia, 8.6 mil vistos estudantis foram concedidos a norte-coreanos em 2024. No entanto, o número de estudantes efetivamente matriculados em universidades russas no ano anterior era de apenas 130.

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