O motor de três cilindros tem se destacado no mercado automotivo brasileiro desde a década de 2010, sendo a escolha de muitas montadoras para reduzir emissões e aumentar a economia de combustível. Porém, esses blocos ainda despertam dúvidas entre os motoristas, algumas infundadas, sobre suas características.
Isso acontece pois o histórico do motor quatro cilindros é bem maior e já consolidado. No entanto, praticamente todas as marcas apostam em alguma unidade três cilindros para equipar seus veículos, sejam aspirados ou turbinados. Há alguns modelos disponíveis apenas com bloco três cilindros, como a gama Chevrolet Onix e Onix Plus.
Na opinião do engenheiro mecânico e consultor automotivo Sérgio Melo, a configuração de três cilindros não é, em essência, diferente de motores maiores. “Cada cilindro funciona de forma independente, com os mesmos componentes básicos: biela, pistão, anel e cabeçote. A diferença está no número de peças e no formato do conjunto, que influencia diretamente na vibração e na entrega de força”, pontua.
A principal vantagem do motor de três cilindros é a redução de peso e volume, devido ao menor número de componentes. Essa simplificação também deveria refletir em custos mais baixos, mas, como Melo destaca, “as fabricantes não repassaram esse benefício integralmente ao consumidor, justificando o preço pelo uso de tecnologias avançadas, como turbocompressores e injeção direta”.
Eficiência versus desgaste do 3 cilindros
Um dos pontos de destaque do três cilindros, de acordo com Marlon Silva, coordenador técnico da Takao, é a eficiência energética dos motores de três cilindros. Eles consomem menos combustível e emitem menos poluentes em comparação a modelos de maior cilindrada, graças ao uso de materiais leves, menor atrito interno e maior compactação. O uso de menos componentes reduz o peso do conjunto e o atrito entre as partes móveis, que colabora para melhores níveis de consumo e emissões”, comenta Silva.
Contudo, como observa Melo, essa eficiência tem um preço: “Os motores de três cilindros atuais são submetidos a esforços muito maiores do que os de gerações anteriores. Antes, um motor 1.0 de quatro cilindros entregava cerca de 65 cavalos. Hoje, um 1.0 de três cilindros ultrapassa 100 cavalos, o que aumenta as pressões na câmara de combustão e, consequentemente, o desgaste”, explica.
Outro ponto crítico é a vibração. Motores com número ímpar de cilindros têm mais dificuldade para equilibrar as forças internas, o que pode gerar maior ruído e desconforto na condução. “Enquanto nos motores de quatro cilindros há uma cadência mais suave na entrega de força, os de três precisam de soluções específicas, como eixos de balanceamento, para minimizar as vibrações”, afirma Melo.
Sobre a durabilidade, Melo é enfático: “Não é o número de cilindros que define a robustez de um motor, mas o projeto e os materiais utilizados. O problema é que motores de três cilindros trabalham sob maior tensão, o que pode exigir manutenção mais frequente e cuidadosa.”
O engenheiro também alerta para a importância de seguir as recomendações do fabricante. “A falta de manutenção adequada, como o uso de lubrificantes apropriados e combustíveis de qualidade, pode acelerar o desgaste desses motores, que já operam em condições mais exigentes.”
Embora enfrentem críticas por vibração e desgaste, os motores de três cilindros representam um avanço significativo no equilíbrio entre eficiência energética e desempenho. O próximo passo dessa tecnologia é a eletrificação. O primerio exemplar dessa nova fase são o Fiat Fastback Hybrid e Pulse Hybrid. Um motor 1.0 turbo três cilindros é associado a um conjunto elétrico 12V para reduzir emissões. Em breve, outras marcas como Volkswagen, Renault e Chevrolet vão lançar motores semelhantes.
Cuidado: tem aditivo de gasolina que pode danificar o motor
Este conteúdo foi originalmente publicado em Motor três cilindros: conheças vantagens e desvantagens no site CNN Brasil.
