
O Brasil pode zerar suas emissões líquidas de carbono até 2040. A afirmação é do climatologista Carlos Nobre, uma das vozes mais respeitadas da ciência do clima. Durante a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, realizada esta semana em Brasília, Nobre apontou que o país tem condições técnicas e naturais para liderar a transição ecológica global — mas reforçou que o tempo está se esgotando. Segundo ele, alcançar esse cenário exige ação imediata em três frentes: uma matriz 100% limpa, agricultura de baixo carbono e restauração em larga escala dos biomas. Só a recomposição ambiental pode remover até 600 milhões de toneladas de CO₂ por ano — volume equivalente a quase metade das emissões brasileiras atuais. O cientista alerta que o mundo já ultrapassou o limite de 1,5 °C de aumento da temperatura média. Se chegarmos a 2 °C — cenário cada vez mais provável —, as consequências serão catastróficas: ondas de calor extremo e prolongado, escassez de água e alimentos, colapso de ecossistemas como a Amazônia, aumento das enchentes, secas e desastres naturais e deslocamento em massa de populações. Os impactos não serão apenas ambientais. Afetam diretamente a economia, a saúde pública e a segurança alimentar global.

Durante o evento, o Brasil também reiterou compromissos assumidos no Pacto pela Transformação Ecológica, como a meta de reduzir emissões em até 67% até 2035. Mas, segundo especialistas, o país ainda precisa avançar em regulação, investimentos e justiça climática para cumprir essas metas. O que está em jogo não é apenas o futuro ambiental do Brasil, mas o equilíbrio climático do planeta. O recado de Carlos Nobre é de que temos potencial para liderar. Mas, sem ação agora, o custo será irreversível.