
Presidente brasileiro participará com o presidente russo de comemoração de data militar e nacional daquele país. Putin é visto na comunidade internacional como autocrata e invasor da Ucrânia sem ser provocado. A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Moscou, para comemorar ao lado do presidente russo Vladimir Putin os 80 anos da vitória soviética sobre os nazistas, gera uma mensagem ruim para a democracia brasileira. A análise é de especialistas ouvidos pelo g1.
Eles lembram que a Rússia sob Putin é uma ditadura, com restrições a direitos políticos, liberdades individuais e liberdade de expressão. Além disso, o presidente russo deflagrou, há mais de 3 anos, a invasão da Ucrânia e até hoje mantém os ataques não provocados ao país vizinho.
Os presidentes da Rússia e do Brasil durante jantar em Moscou
Ricardo Stuckert/Presidência da República
Outro ponto levantado é que Lula se elegeu, em 2022, justamente com o discurso de preservar a democracia brasileira, o que é incoerente com essa visita a Putin em uma data militar e nacional russa.
“É um cenário complicado, é difícil compreender o posicionamento do Brasil. A presença do presidente [Lula] demonstra uma atitude diplomática independente e incorreta, em termos de respeito às democracias. O Lula vem atacando as democracias há um tempo durante posicionamentos referentes a Rússia e Ucrânia”, afirmou o analista político Ricardo Rangel.
Ele ressaltou ainda que as tendências autoritárias estão em alta em vários países importantes do mundo, e Lula deveria evitar associar a imagem do Brasil a uma dessas nações.
“Nunca, desde a derrota do nazifascismo em 1945, a extrema direita esteve tão forte, e ela está por toda parte: [Donald] Trump, [Marie] Le Pen, [Victor] Orbán, etc. Recentemente, o segundo lugar nas eleições alemãs ficou com o partido extremista Alternativa para a Alemanha (AfD), e o vencedor teve dificuldade para formar um governo”, completou.
Putin diz esperar que não haja necessidade de usar armas nucleares na Ucrânia
Dia da Vitória
A reunião organizada por Putin faz parte das celebrações dos 80 anos do Dia da Vitória, que marca a capitulação da Alemanha nazista diante da União Soviética e aliados na Segunda Guerra Mundial.
A celebração do Dia da Vitória, tradicionalmente marcada por discursos nacionalistas e exibição de força militar, é vista por analistas da geopolítica internacional como uma forma de propaganda política usada por Putin para reforçar sua imagem de liderança em meio ao conflito.
“[A presença de Lula] Tem um caráter simbólico forte. Há um fardo em se aproximar mais da Rússia, de fato. Ambos países fazem parte do Brics. Porém, fica um clima estranho na diplomacia internacional. Somos uma democracia, e não faz sentido fazer esse contato com um país autocrata neste momento”, afirmou ao g1 cientista político, André Perfeito.
Nesta quinta-feira (8), Lula já jantou com Putin, no Kremlin, sede do governo russo, que também abriga a residência oficial do líder do país europeu, em Moscou.
Lula e a guerra na Ucrânia
Ao longo de 2023, Lula investiu, sem sucesso, em tentativas de atuar como mediador de um diálogo entre Ucrânia e Rússia para o fim da guerra.
Durante viagem à China e aos Emirados Árabes, em abril de 2024, Lula também responsabilizou a Ucrânia por guerra com o país russo, e afirmou que Estados Unidos e União Europeia contribuíam para continuidade do conflito armado.
Em meio a críticas internacionais, Lula amenizou o discurso, disse que não igualava Rússia e Ucrânia, e defendeu a integridade territorial ucraniana. O governo brasileiro entende que a negociação de paz deve ter a participação de russos e ucranianos.
“Lula poderia ir a Moscou a qualquer tempo, mas escolheu este momento simbólico, em que as democracias celebram a vitória contra as tiranias. Não é apenas ignorância histórica e estupidez política, é a mais grave agressão diplomática (depois de muitas) às democracias europeias até agora. Ela terá consequências”, afirmou o analista político, Ricardo Rangel.
Da Rússia para a China
Após as agendas em território russo, Lula seguirá de Moscou para Pequim, onde terá compromissos na segunda-feira (12) e terça-feira (13).
A China também não é um país democrático.
O presidente participará de encontro do Fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e terá reunião reservada com o presidente da China, Xi Jinping.
A visita ao país asiático, principal parceiro comercial do Brasil, ocorre em um contexto de guerra tarifária entre China e Estados Unidos.
A China é o principal alvo das taxas impostas pelo presidente americano, Donald Trump. Os dois países anunciarão que iniciarão negociações para rever as tarifas.