Apesar de um aporte de US$ 150 milhões (R$ 861 milhões) de fundos dos EUA e do Reino Unido, a China é a maior beneficiária dos metais de terras raras extraídos da mina brasileira Serra Verde, em Goiás. De acordo com o site Farmingdale Observer, embora as duas nações ocidentais esperassem garantir uma nova fonte estratégica de suprimento desses minerais, o controle chinês limita seus ganhos.
O texto, assinado pelo jornalista Bob Rubila, explica que Serra Verde é atualmente a única mina fora da Ásia capaz de extrair terras raras pesadas a partir de argila iônica, um tipo de depósito mais fácil de explorar do que as tradicionais rochas duras. “Esses minerais são essenciais para a fabricação de tecnologias estratégicas, como veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos militares”, diz ele.
Com o investimento, britânicos e norte-americanos pretendiam criar uma cadeia de suprimento menos dependente de Beijing. No entanto, segundo Rubila, toda a produção da mina já está contratada por empresas chinesas. Além de garantir o fornecimento do minério bruto, a China detém a infraestrutura necessária para realizar o refino e a separação dos elementos, etapas técnicas e caras que ainda não foram desenvolvidas em larga escala no Ocidente.

“O caso de Serra Verde reflete a liderança estratégica adquirida pela China, que há muito tempo antecipou o valor geopolítico das terras raras”, diz o texto. “Essa situação evidencia uma fragilidade estrutural no Ocidente: mesmo quando uma fonte alternativa é identificada, a infraestrutura industrial para explorá-la de forma independente ainda é insuficiente.”
Rubila menciona especialmente os elementos disprósio e térbio, presentes em Serra Verde e considerados estratégicos para a produção de ímãs de alto desempenho. Sem domínio sobre o processamento desses metais, países ocidentais continuam dependentes da China, mesmo quando conseguem viabilizar novas frentes de extração.
Brasil desafia hegemonia chinesa
Enquanto o controle da China sobre o refino e a distribuição desses minerais limita os ganhos de países ocidentais, o Brasil busca desenvolver sua própria capacidade industrial. Um passo nessa direção é a fabricação nacional de ímãs de terras raras, prevista para começar neste ano na cidade de Lagoa Santa (MG). A iniciativa marca uma tentativa de agregar valor aos minerais extraídos no país e fortalecer a posição brasileira no mercado global.
Os ímãs produzidos a partir de elementos como o neodímio são essenciais em turbinas eólicas, motores de veículos elétricos e dispositivos eletrônicos. Atualmente, mais de 90% desses componentes vêm da China, o que levou o Brasil a buscar rotas alternativas de produção.
O projeto de Lagoa Santa (MG), conduzido pelo Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras (Labfab ITR), tem capacidade instalada para produzir até cem toneladas por ano. Segundo a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), a planta pode ser ampliada para produzir até 250 toneladas anuais.
Apesar do avanço, especialistas apontam que o alto custo e a complexidade da operação exigem apoio estatal. “Só o investimento estatal poderia assumir os riscos e custos de colocar em operação uma instalação complexa”, afirmou Fernando Landgraf, coordenador do projeto Pátria, em entrevista à A Referência.
Ocidente em desvantagem
Foi o bloqueio imposto pela China ao Japão em 2010 que acendeu o alerta sobre a dependência global em relação aos minerais estratégicos controlados por Beijing. Desde então, a preocupação aumentou, mas, mesmo com novos aportes e promessas de diversificação, os países ocidentais ainda enfrentam grandes obstáculos para reduzir essa dependência.
Hoje, a disputa pelas terras raras vai além da localização de novas jazidas: o verdadeiro desafio está em dominar o refino e criar cadeias produtivas próprias. Sem isso, segundo Rubila, iniciativas como a da mina Serra Verde continuarão beneficiando a China. Para os Estados Unidos e seus parceiros, alcançar autonomia nesse setor ainda é um objetivo distante.
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