O bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, anunciou na quinta-feira (09) que vai encerrar as atividades da Fundação Gates nos próximos 20 anos.
Até lá, porém, ele vai doar 99% da sua fortuna, estimada em US$ 107 bilhões, à instituição.
Se concretizada, a transferência da fortuna estará entre as maiores doações filantrópicas de todos os tempos – superando as contribuições históricas de industriais como John D. Rockefeller e Andrew Carnegie, quando ajustadas pela inflação.
Apenas a promessa de Warren Buffett, gestor da Berkshire Hathaway, de doar sua fortuna – estimada pela Forbes em US$ 160 bilhões – seria maior, dependendo das flutuações do mercado de ações.
A doação de Gates será realizada ao longo do tempo e permitirá que sua fundação gaste mais de US$ 200 bilhões nos próximos 20 anos.
“É emocionante ter essa quantia para poder investir nessas causas”, disse Gates em uma entrevista à The Associated Press.
O anúncio sinaliza tanto uma promessa de apoio contínuo a causas como saúde global e educação quanto o potencial fim da imensa influência mundial da fundação.
Gates diz que gastar sua fortuna ajudará a salvar e a melhorar muitas vidas agora, o que terá efeitos positivos muito além do fechamento da fundação. Isso também torna mais provável que suas intenções sejam honradas.
“Acho que 20 anos é o equilíbrio certo entre dar o máximo que pudermos para progredir e avisar às pessoas que agora esse dinheiro vai acabar”, disse Gates.
História
A Fundação Gates há muito tempo é inigualável entre as fundações filantrópicas, atraindo apoiadores e detratores – além de inúmeras teorias de conspiração.
Além dos US$ 100 bilhões que gastou desde a sua fundação, há 25 anos, ela direcionou pesquisas científicas, ajudou a desenvolver novas tecnologias e cultivou parcerias de longo prazo com países e empresas.
Cerca de 41% do dinheiro da fundação, até agora, veio de Buffett, e o restante da fortuna que Gates fez na Microsoft.
Criada por Bill Gates e Melinda French Gates, em 2000, a fundação desempenha papel importante na formulação de políticas globais de saúde.
E conquistou um nicho especial ao estabelecer parcerias com empresas e reduzir o custo de tratamentos médicos para que os países de baixa e média rendas pudessem pagar por eles.
“O trabalho da fundação teve um impacto muito maior do que eu esperava”, disse Gates, a chamando de sua segunda e última carreira.
A influência da fundação na saúde global – desde a Organização Mundial da Saúde (OMS) até os rumos de pesquisas – é tanto uma medida de seu sucesso quanto um ímã para críticas.
Durante anos, os pesquisadores perguntaram por que uma família rica deveria ter tanta influência sobre a forma como o mundo melhora a saúde das pessoas e responde a crises.
Gates disse que, como qualquer cidadão comum, ele pode escolher como gastar o dinheiro que ganha e decidiu fazer tudo o que puder para reduzir a mortalidade infantil. “Não é uma causa importante? As pessoas podem criticar”, disse ele. “Mas a fundação continuará com seu trabalho de saúde global.”
‘Papel catalisador’
A métrica mais valorizada da fundação é a queda de quase metade das mortes infantis por causas evitáveis entre 2000 e 2020, de acordo com os números das Nações Unidas.
O CEO da fundação, Mark Suzman, tem o cuidado de dizer que eles não levam o crédito por essa conquista.
A fundação ainda tem várias metas – erradicar a pólio, controlar outras doenças mortais, como a malária, e reduzir a desnutrição, que torna as crianças mais vulneráveis a outras doenças.
Gates espera que, ao gastar para resolver essas questões agora, os doadores ricos estarão livres para resolver outros problemas mais tarde.
A Fundação Gates havia planejado encerrar suas atividades duas décadas após a morte de Gates, o que significa que o anúncio de ontem antecipa significativamente esse cronograma.
Gates planeja continuar envolvido, embora, aos 69 anos, tenha reconhecido que talvez não tenha voz ativa.
Nas duas décadas que lhe restam, a fundação manterá um orçamento de cerca de US$ 9 bilhões por ano, o que representa um nivelamento do crescimento quase anual desde 2006, quando Buffett começou a fazer suas primeiras doações.
Suzman espera que a fundação restrinja seu foco às principais prioridades.
“Ter esse horizonte de tempo e os recursos apenas nos sobrecarrega ainda mais para dizer: ‘Você está realmente colocando seus recursos nas apostas maiores e mais bem-sucedidas, em vez de espalhá-los demais?’”, disse Suzman, reconhecendo estar criando incertezas até mesmo dentro da fundação sobre quais programas teriam continuidade.
Remanescente
Grandes mudanças precederam o 25º ano da fundação. Em 2021, Melinda French Gates e Bill Gates se divorciaram, e Buffett renunciou ao cargo de curador da fundação.
Eles recrutaram um novo conselho de curadores para ajudar a administrar a fundação e, em 2024, Melinda saiu para continuar trabalhando em sua própria organização.
Ela disse que decidiu deixar o cargo em parte para se concentrar em combater o retrocesso dos direitos das mulheres nos EUA.
No evento ELLE Women of Impact, em Nova York, em abril, ela disse que queria deixar a fundação em um ponto alto. “Confiava muito em Mark Suzman, o atual CEO”, disse.
“Tínhamos um conselho de administração que eu ajudei a formar, e eu conhecia seus valores.”
Mesmo com a estabilização da governança da fundação, o caminho à frente parece difícil. Conflitos duradouros na Ucrânia e em Gaza, turbulência econômica global e cortes na ajuda externa dos EUA indicam menos recursos para a saúde e o desenvolvimento globais.
“A maior incerteza para nós é a generosidade que será destinada à saúde global“, disse Gates.
“Ela continuará caindo, como nos últimos anos, ou poderemos voltar aonde deveria estar?”
Existe um problema estrutural na economia do mundo, diz professor
Este conteúdo foi originalmente publicado em Bill Gates fala sobre fim de sua fundação e doação de fortuna de US$ 107 bi no site CNN Brasil.