Do PSDB ao PSD: as incertezas sobre o futuro de Eduardo Leite

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, oficializou um movimento esperado há alguns meses na política nacional: na sexta-feira, 9, trocou o PSDB, ao qual era filiado desde que ingressou na vida pública, pelo PSD.

O desfecho aprofunda uma crise que pode levar seu antigo partido ao ostracismo e, ao mesmo tempo, embaralha uma já indefinida corrida pela Presidência da República em 2026, cargo ao qual Leite disse pretender concorrer.

Ex-esperança tucana

Eleito prefeito de Pelotas, a quarta cidade mais populosa do Rio Grande do Sul, em 2012, Leite foi bem avaliado à frente do município e, ainda assim, preferiu não disputar um novo mandato em 2016. “Sempre fui contra a reeleição. Não é agora, que ela em tese me beneficia, que vou mudar de ideia“, afirmou.

Os planos do gaúcho, no entanto, contemplavam ambições maiores. Em 2018, concorreu e foi eleito governador do estado em chapa com amplo apoio partidário — atraiu de PP a Rede, consolidando um discurso de centro no estado.

O contexto da eleição, alinhado à derrocada do próprio partido — depois de chegar ao segundo turno da eleição presidencial com o hoje deputado Aecio Neves (MG), em 2018, o PSDB amargou 4,76% dos votos no pleito de 2018, com Geraldo Alckmin (hoje no PSB) –, alçaram Leite à posição de uma das principais lideranças nacionais do tucanato.

Munido pela condição e pelo discurso contrário à reeleição, o político renunciou ao Palácio do Piratini em março de 2022 para disputar as prévias partidárias para a candidatura presidencial. O objetivo era se apresentar como uma alternativa à polarização consolidada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), mas a derrota interna para o então governador de São Paulo, João Doria, frustrou os planos do gaúcho.

Do PSDB ao PSD: as incertezas sobre o futuro de Eduardo Leite

João Doria e Eduardo Leite, então governadores de São Paulo e Rio Grande do Sul e colegas de PSDB, disputaram prévias em 2022

A corrida, por fim, não deixou Leite para trás. Doria nem sequer concorreu ao Planalto, enquanto o mandatário gaúcho foi cortejado por Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, para embarcar na legenda e sair candidato à Presidência. O gaúcho preferiu, numa contradição de discursos anteriores, concorrer novamente ao Piratini. Em um segundo turno disputado contra o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), terminou como o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul.

Destino incerto

Ao contrário do que ocorreu em seu primeiro mandato à frente do estado, a segunda experiência como governador não manteve Leite no diálogo como alternativa à Presidência da República.

Em um contexto de desgaste do governo Lula e inelegibilidade de Bolsonaro, o gaúcho aparece atrás de uma fila que inclui os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) como possíveis presidenciáveis para 2026.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, no final de abril, Leite reiterou o desejo de concorrer ao Planalto e externou a possibilidade de deixar o partido, ainda mais enfraquecido para pretensões dessa dimensão. “Temos que ver o que desse caminho que o PSDB tomar dará condições para que eu tenha a minha participação na política, na vida pública do nosso país, não apenas do ponto de vista da oportunidade de concorrer, mas da capacidade de formular programa, de ter um projeto para o país. É isso que eu quero poder enxergar”, afirmou.

Ao desembarcar da agremiação, dias após a entrevista, o governador toma distância de uma agremiação com pouca claridade quanto ao próprio futuro.

Com risco de não cumprir os requisitos da cláusula de desempenho em 2026 — quando os partidos terão de eleger ao menos 13 deputados federais ou obter no mínimo 2,5% dos votos válidos nas eleições para a Câmara para não perder acesso ao fundo eleitoral e à propaganda eleitoral gratuita –, os tucanos negociam uma fusão com o Podemos, como relatou a IstoÉ, após negociações com MDB e o próprio PSD caírem por terra.

Do PSDB ao PSD: as incertezas sobre o futuro de Eduardo Leite

Leite e o presidente Lula em 2024: governador ainda pode enfrentar petista nas urnas em 2026

Consolidada a saída de Leite, o presidente do diretório do PSDB em São Paulo, Paulo Serra, afirmou que os “detentores dos valores históricos” do partido seguirão “firmes no propósito da fusão com o Podemos“, enquanto Aecio disse que o ex-colega “deixa o jogo nacional“. A frustração é compartilhada por outros dirigentes tucanos, que mantinham o gaúcho como esperança de dias melhores nas urnas.

Ao mesmo tempo em que oficializa um desembarque movido pelas pretensões presidenciais, Leite chega a um PSD pouco afeito a um compromisso dessa dimensão. Sem amarras ideológicas, a legenda de Gilberto Kassab comanda três ministérios no governo Lula (Pesca, Agricultura e Minas e Energia) e faz acenos a uma possível candidatura de Tarcísio de Freitas. Nesta mesma semana, o manda-chuva partidário afirmou que a “tendência de qualquer grande partido” é ter candidaturas próprias, citando Ratinho Júnior.

Esse é o cálculo que poderia levar o governador a disputar o Senado pelo Rio Grande do Sul, onde não poderá disputar nova reeleição. Kassab afugentou a ideia e disse que Leite “chega ao partido como um pré-candidato à Presidência”.

No evento de filiação, o novo pessedista não descartou o Legislativo, mas manteve a mira nacional: “Não venho para cá com desejo de prévias. Venho para ver o melhor caminho. Tive uma conversa com o governador Ratinho, somos políticos jovens, quase na mesma faixa de idade, mas ele é um bom amigo e temos muitas convergências. Dentro desse espírito, tenho certeza de que o desejo dele é o mesmo que o meu”.

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