Bukele zomba de suposto pacto com gangues relatado pela mídia em El Salvador

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, mostrou neste sábado (10) imagens de membros de gangues em um mega presídio para desacreditar declarações feitas por dois líderes da gangue Barrio 18 ao jornal online El Faro sobre uma suposta negociação que o ajudou a chegar ao poder em 2019.

“Bukele fez um pacto com as gangues”, brincou o presidente nas redes sociais, junto com um vídeo que mostra membros de gangues algemados entrando no presídio de segurança máxima, o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), com capacidade para 40.000 reclusos.

Há uma semana, Carlos Cartagena, conhecido como “Charli”, e outro líder identificado como Liro Man, da facção Revolucionários da gangue Barrio 18, contaram ao El Faro os detalhes de uma suposta negociação que ajudou Bukele a chegar ao poder.

Cartagena disse ao jornal que as gangues negociaram por meio de dois colaboradores de Bukele – sancionados por Washington – para apoiá-lo para que ele pudesse ser eleito prefeito de San Salvador de 2015 a 2018 e depois presidente em 2019.

As entrevistas dão continuidade a uma investigação do El Faro que revelou em 2020 o suposto acordo de Bukele com gangues para reduzir homicídios, algo que o presidente nega.

Intitulado “o pacto”, o vídeo publicado pelo presidente também inclui um gráfico que mostra como El Salvador passou de país mais violento do mundo sem guerra para um dos mais seguros em 2024, com 1,9 homicídio por 100.000 habitantes.

Liro Man afirmou que os contatos foram feitos por Carlos Marroquín, diretor do programa governamental “Tejido Social”, e Osiris Luna, vice-ministro da Justiça e diretor-geral dos presídios de El Salvador.

Tanto Marroquín quanto Luna foram sancionados pelos Estados Unidos em 2021, durante o então governo Joe Biden, que os acusou de participar de negociações secretas com líderes das gangues Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18.

Em entrevista à revista francesa Le Grand Continent, o vice-presidente salvadorenho, Félix Ulloa, negou que “negociações” com gangues sejam uma política do governo Bukele, mas sim que sejam “casos isolados”.

“No caso de El Salvador, desde 2019, o presidente Bukele nunca autorizou qualquer tipo de negociação com gangues. Alguns relatos da imprensa afirmam que algumas autoridades negociaram, mas essas são ações isoladas. Isso não é uma política, não é uma política de governo”, disse Ulloa.

Após a publicação, El Faro informou que o Ministério Público de El Salvador estava se preparando para prender seus repórteres pela publicação das entrevistas.

A Associação de Jornalistas Salvadorenhos (Apes) solicitou informações ao MP sobre este caso. Não houve resposta.

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