Nesta semana, a ascensão do primeiro papa norte-americano surpreendeu a muitos, inclusive os sites de apostas online teoricamente neutros como Polymarket e Kalshi.
Os sites, que permitem às pessoas apostarem nos resultados de vários eventos, se autodenominam “mercados de previsão”, com base na teoria de que, quando há dinheiro em jogo, eles são melhores, em conjunto, na previsão de resultados.
Embora tenham tido alguns sucessos — notadamente, superaram as pesquisas tradicionais na previsão da vitória de Donald Trump nas eleições de 2024 —, o mercado de apostas sobre o próximo papa foi pego de surpresa pela eleição do originário de Chicago Robert Prevost, agora Papa Leão XIV.
Antes que a fumaça branca subisse, Kalshi e Polymarket classificaram Prevost como uma chance remota, com probabilidades entre 1% e 2%, o que significa que um punhado de apostadores que colocaram suas fichas em Prevost ganharam muito. No Polymarket, um usuário transformou uma aposta de pouco mais de US$ 1.000 em um lucro de US$ 63.683, de acordo com o registro público do site.
Os mercados de apostas permitem que se aposte em praticamente qualquer coisa e têm um histórico misto de “previsão” de resultados. Embora tenham previsto corretamente a eleição de 2024, erraram notavelmente em 2016, quando o “dinheiro inteligente” sugeriu que os eleitores britânicos rejeitariam o “Brexit” e que Hillary Clinton derrotaria Donald Trump.
O grande erro dos mercados do conclave nesta semana reflete os limites de seus poderes de previsão.
Nas apostas esportivas, há milhares de pontos de dados sobre atletas individuais, estatísticas de equipes que remontam a décadas e inúmeras opiniões informadas de comentaristas profissionais. Os ventos políticos podem ser voláteis, mas os dados de pesquisas e eleitores são praticamente infinitos em nível nacional.
Nas apostas sobre o papa, os dados são muito mais escassos.
“Os mercados de conclave papal são dos que você espera que sejam menos bem calibrados, já que só recebem um ponto de dados a cada uma ou duas décadas”, disse Eric Zitzewitz, professor de economia do Dartmouth College, à CNN. “E o processo é muito mais opaco do que quase qualquer outro processo de seleção política… Não há memórias reveladoras, mesmo bem depois do fato.”
Muitos acadêmicos e jornalistas ofereceram insights sobre quem poderia estar entre os favoritos, com base em seus vários currículos e reputações na Igreja. Pietro Parolin e Luis Antonio Tagle estavam entre os favoritos para o conclave na quarta-feira (7). E, como observou o analista eleitoral Nate Silver na sexta-feira (9), as chances de Parolin aumentaram quando a fumaça branca emergiu, “presumivelmente na suposição de que a decisão rápida era uma boa notícia para os primeiros colocados”.
É claro que a dinâmica dentro da Capela Sistina era impossível de os participantes do mercado avaliarem de fora. Tudo o que nós, pessoas comuns, podíamos fazer era assistir a “Conclave” e, com base no filme, presumir que haveria muito drama e mudanças de lealdade.
Conclusão: mesmo em um mercado altamente líquido, que, segundo a teoria da sabedoria da multidão, deveria ser mais preciso, simplesmente não há ferramentas para medir o que os católicos acreditam ser o Espírito de Deus guiando a escolha dos cardeais.
“O Espírito Santo é, de fato, astuto”, disse Zitzewitz.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Eleição de papa norte-americano expõe limites dos mercados de apostas no site CNN Brasil.