
Cláudio André Taffarel, que completou 59 anos na última semana, faz parte da galeria dos heróis do tetracampeonato. Em 1994, nos Estados Unidos, o goleiro foi decisivo para tirar a seleção de uma fila incômoda de títulos. Desde 1970, o Brasil não conquistava uma Copa, foram 24 anos de agonia e cinco mundiais perdidos. Entretanto, a história mudou naquele quente domingo californiano, dia 17 de julho. Diante da Itália, depois de 120 minutos sem gols, o primeiro tetracampeão de futebol seria conhecido nas penalidades máximas.
Baresi foi escolhido pelo técnico Arrigo Sacchi para a primeira cobrança. O capitão italiano chutou de pé direito e isolou completamente a bola por cima do travessão. Pelo lado do Brasil, comandado por Carlos Alberto Parreira, Márcio Santos cobrou com força, mas Pagliuca se esticou no canto direito e pegou a cobrança. Na sequência, o camisa 11 da Itália, Albertini, beijou a bola e tomou pouca distância. Ele escolheu o canto direito de Taffarel. O goleiro foi para o lado oposto e as redes balançaram pela primeira vez no Rose Bowl: 1 a 0.
Na sequência, Romário também chutou no canto direito de Pagliuca, um pouco acima da meia altura, a bola raspou a trave e entrou, para o desespero do goleiro italiano. Já o “Baixinho” não expressou reação: 1 a 1.
O “frio” Evani não quis arriscar: chutou com o pé esquerdo no meio do gol, enquanto Taffarel se atirou para a direita, tentando adivinhar o canto: 2 a 1. O lateral Branco cobrou com muita categoria: bola na esquerda e goleiro para a direita: 2 a 2. Os jogadores brasileiros estavam na lateral do campo abraçados e torcendo a cada cobrança.
Chegou a vez de Taffarel mostrar todo valor diante do experiente Massaro. O italiano chutou e o goleiro brasileiro caiu certo, no canto esquerdo, e defendeu para o delírio da torcida. O camisa 1 levantou a mão direita, agradecendo a Deus, e Massaro soltou um palavrão.
O placar continuava igual, 2 a 2. “Nos dois primeiros pênaltis eu estava assim: o cara ia chutar e eu já estava saltando, não estava me concentrando. E foi no momento da cobrança do Massaro que eu pensei. Vou me acalmar e tentar me tranquilizar para poder defender. E foi o que aconteceu. Tanto é que foi um pênalti bem fácil. Eu só acertei o canto e a bola veio em cima de mim. Naquele momento, eu queria ajudar demais”, revela o goleiro da seleção.
Taffarel conta que o pênalti perdido por Márcio Santos o deixou angustiado: “Quando foi para os pênaltis, seria uma coisa normal eu ficar tranquilo, pois a responsabilidade não era minha, era mais dos batedores. Mas foi bem o contrário o que eu senti. Eu senti uma ansiedade muito grande de querer ajudar porque o goleiro tem cinco chances de defender e ajudar o seu time. O batedor tem uma chance: ou ele acerta ou erra. […] Eu sentia a pressão que estavam tendo os jogadores naquele momento. […] No lado do Márcio, [vi] aquela tristeza, aquela decepção”. Em seguida, o capitão brasileiro, Dunga, chutou no canto esquerdo do goleiro. Pagliuca foi para o direito. Gol do Brasil: 3 a 2. A seleção passava à frente no placar e jogava toda a responsabilidade para o adversário.
O peso do planeta estava nas costas de Roberto Baggio. Dúvida para o jogo, a perna direita dele pesou, e muito, na hora daquela cobrança. O camisa 10 tomou distância e bateu mal, muito mal. Assim como aconteceu com Baresi, a bola subiu como um foguete e passou longe do travessão! O jogador ficou desolado, com as mãos apoiadas na cintura. Fim de jogo, e o mundo tinha o primeiro tetracampeão da história. Vale a pena relembrar esse momento marcante com a narração de José Silvério, diretamente do arquivo da Jovem Pan.