Donald Trump estaria prestes receber um jumbo 747 avaliado em R$ 2,2 bi presenteado pelo regime catari. Presidente diz que trata-se de uma “transação transparente” e gratuita, mas críticos denunciam conflito de interesseO presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu neste domingo (12/05) a oferta de um presente que lhe seria entregue na forma de um novo Boeing 747, após a imprensa americana relatar que ele receberia a aeronave da família real do Catar para substituir o atual Air Force One.
O Boeing 747-8 foi descrito pela emissora ABC News como um “palácio voador”, possivelmente o presente mais caro já recebido por um presidente dos EUA.
Críticos afirmam que uma eventual aceitação da oferta catari pode violar regras rígidas sobre presentes para presidentes dos EUA e levantar novas questões sobre conflitos de interesse com os negócios da família Trump.
O líder americano tem uma viagem programada para a Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos que deve durar de terça a quinta-feira.
O que disse Trump?
Ao aparentemente confirmar o conteúdo das reportagens, Trump disse em uma publicação nas redes sociais na noite deste domingo, na qual o Catar não foi mencionado nominalmente, que o avião seria um “presente” temporário que seria destinado ao Departamento de Defesa.
Trump argumentou que o Partido Democrata, da oposição, estava errado ao se opor ao presente, uma vez que isso significaria que o Air Force One poderia ser substituído “gratuitamente”.
“Eles insistem que paguemos uma fortuna pelo avião”, escreveu o presidente dos EUA. “Qualquer um pode fazer isso. Os democratas são uns perdedores de classe mundial!”
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse nesta segunda-feira que o governo agirá de acordo com a lei e não está preocupado com o que os cataris possam pedir em troca.
“O governo catari gentilmente se ofereceu para doar um avião ao Departamento de Defesa. Os detalhes legais disso ainda estão sendo elaborados”, disse Leavitt em entrevista à emissora pró-Trump Fox News.
“Qualquer doação a este governo é sempre feita em total conformidade com a lei; nos comprometemos com a máxima transparência, e continuaremos a fazê-lo”, disse a porta-voz.
O que disseram os críticos?
As reportagens na imprensa americana provocaram críticas de ambos os lados do espectro político.
Laura Loomer, uma aliada de Trump da ultradireita, disse que aceitar o avião seria uma “mancha” para o governo.
“Não podemos aceitar um ‘presente’ de 400 milhões de dólares (R$ 2,2 bilhões de reais) de jihadistas de terno”, postou a ultradireitista no X. “Os cataris financiam os mesmos representantes iranianos no Hamas e no Hezbollah que assassinaram militares americanos.”
“Nada diz ‘América em primeiro lugar’ como um Air Force One, trazido a você pelo Catar”, escreveu o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, no X. “Não é apenas suborno, é influência estrangeira premium com mais espaço para as pernas.”
O Comitê Nacional do Partido Democrata disse que a medida demonstra que Trump usa o cargo presidencial para ganhos financeiros pessoais.
“Enquanto as famílias trabalhadoras se preparam para custos mais altos e prateleiras vazias, Trump continua focado em enriquecer a si mesmo e a seus apoiadores bilionários”, afirmou o Comitê Nacional Democrata em um e-mail enviado aos seus apoiadores.
Parlamentares democratas também criticaram o plano.
O senador Chris Murphy o chamou de “extremamente ilegal”, enquanto a deputada Kelly Morrison afirmou que tal presente equivale a “corrupção à vista de todos” e a um “suborno” antiético e inconstitucional.
O que diz o Catar?
Um porta-voz do Catar, Ali Al-Ansari, afirmou em um comunicado que a possível transferência de uma aeronave para uso temporário como Air Force One ainda estava sendo considerada entre o Ministério da Defesa do Catar e o Departamento de Defesa dos EUA e que “nenhuma decisão foi tomada”.
O presente pode ser ilegal?
A Constituição dos EUA proíbe funcionários do governo de aceitar presentes “de qualquer rei, príncipe ou Estado estrangeiro”.
A emissora ABC, no entanto, citando algumas fontes, relatou a Casa Branca e o Departamento de Justiça dos EUA alegam que o presente é legal e não se trata de suborno, já que não é dado em troca de nenhum favor ou ação específica.
Eles afirmam também que o presente não seria inconstitucional, pois seria primeiro repassado à Força Aérea dos EUA antes de ser entregue à biblioteca presidencial e, portanto, nunca será dado a uma pessoa individualmente. O Catar afirmou que as notícias que descrevem o jato como um presente “são imprecisas”.
Por que substituir o Air Force One?
Trump há muito tempo está insatisfeito com as duas aeronaves Boeing 747-200B altamente personalizadas, atualmente usadas como Air Force One, nome dado a qualquer aeronave que transporta o presidente dos EUA.
Os aviões atuais, equipados com tecnologia de comunicação altamente sofisticada e dispositivos antimísseis, estão em serviço desde a década de 1990.
Trump encomendou duas novas aeronaves da Boeing durante seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, mas atrasos e custos cada vez mais altos deixam dúvidas se pelo menos uma delas será entregue até 2029, quando seu mandato se encerra.
rc (Reuters, DW)