Antes mesmo da anexação da Crimeia, em 2014, e da invasão russa em grande escala, em 2022, a tensa relação entre Moscou e Kiev tem sido marcada por tentativas de trégua e acusações de violação. Um sumário.Desde a anexação ilegal da península ucraniana da Crimeia, em 2014, tem havido várias tentativas de dar um fim definitivo à guerra na Ucrânia, envolvendo tanto os apoiadores europeus do país quanto os Estados Unidos – sem qualquer sucesso.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs uma nova rodada de negociações de cessar-fogo em Istambul nesta quinta-feira (15/05). O anúncio coincidiu com um novo ataque com drones a Kiev, dando fim à “trégua” de três dias declarada unilateralmente por Moscou.
Os líderes europeus recusaram a proposta de conversações diretas, enquanto ambas as partes do conflito não declarassem cessar-fogo incondicional. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, iniciamente apoiou essa proposta, mas decidiu participar das conversas em Istambul após o presidente dos EUA, Donald Trump, insistir que ele deveria fazer isso. Não está claro ainda se Putin irá ou se enviará um representante.
Nos últimos meses, os EUA vêm promovendo prolongadas negociações separadas com a Ucrânia e com a Rússia. Antes de ser eleito, Trump prometera dar fim ao conflito já em seu primeiro dia de presidência. Além de a promessa não ter se cumprido, as repetidas intervenções de Washington denotam um favorecimento dos interesses de Putin.
Apesar do insucesso em alcançar um cessar-fogo duradouro, desde o início da invasão russa da Ucrânia em larga escala em 2022 houve diversos acordos de curto prazo. Kiev e Moscou têm-se acusado mutuamente de violar tanto esses pactos quanto os cessar-fogos declarados unilateralmente.
Desde 1994, a Rússia já rompeu diversos pactos visando assegurar a existência da Ucrânia após a queda da União Soviética (URSS).
Memorando de Budapeste e Tratado de Amizade Russo-Ucraniano
O Memorando de Budapeste foi um acordo entre a Ucrânia e a Rússia, coassinado pelos EUA e o Reino Unido em 5 de dezembro de 1994. A condição fora Kiev concordar em entregar as armas nucleares que a Rússia herdara da URSS. Em troca, Moscou, Washington e Londres se comprometiam a “respeitar a independência e soberania e as fronteiras existentes” e “abster-se de ameaçar ou empregar força contra a integridade territorial e a independência política da Ucrânia”.
Além disso, em 1997, o Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria comprometia ambas as partes ao “respeito e confiança mútuos” e “respeitar a respectiva integridade territorial”.
Ambos os pactos visavam prevenir um conflito entre as duas nações do Leste Europeu. Ao invadir e anexar a Crimeia, no Mar Negro, em fevereiro de 2014, e prosseguir invadindo e atacando território ucraniano, os russos violaram repetidamente seus compromissos sob o Memorando e o Tratado.
Acordos de Minsk
Dois acordos assinados em Belarus – país aliado da Rússia – e apoiado por potências europeias, que receberam o nome de sua capital, não bastaram para garantir a paz russo-ucraniana. Firmado em 5 de setembro de 2014, o Protocolo de Minsk (também denominado “Minsk I”) continha 12 tópicos relativos à desescalada do recente conflito no leste da Ucrânia, mas fracassou dentro de alguns dias.
Em 12 de fevereiro de 2015 seguiu-se “Minsk II”, em que as duas nações em conflito, as forças separatistas pró-russas das regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk, e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) acordaram sobre 13 pontos. Seguiu-se um cessar-fogo imediato, porém poucas horas antes de a trégua entrar em vigor, russos e ucranianos já se acusavam mutuamente de violações.
Escalada em 2022 e cessar-fogos rompidos
Desde a invasão em larga escala pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, diversos cessar-fogos de prazo curto foram instaurados e rompidos:
6 de março de 2022: Breve cessar-fogo humanitário é cancelado em meio a notícias de bombardeio da cidade de Mariupol, no Mar de Azov.
8 de março de 2022: Tentativas repetidas de formar corredores de evacuação humanitária redundam em acusações de que a Rússia estaria impedindo a passagem dos civis.
7 de janeiro de 2023: Rússia decreta cessar-fogo unilateral para celebração do Natal ortodoxo. Poucas horas mais tarde, líderes ucranianos relatam a retomada dos bombardeios inimigos. Por sua vez, a imprensa estatal russa acusa a Ucrânia de ataques com drones contra posições militares.
18 de março de 2025: Negociações entre EUA e Rússia na Arábia Saudita, em seguida a telefonema entre Trump e Putin, resultam em acordo de cessar-fogo de 30 dias para “energia e infraestrutura”. Zelenski concorda com um cessar-fogo parcial alinhado com essas conversas.
25 de março de 2025: No contexto de negociações lideradas pelos EUA, Ucrânia e Rússia concordam em suspender ofensivas no Mar Negro, uma rota de navegação vital.
27 de março de 2025: Kiev e Moscou acusam-se mutuamente de violar, com ataques à infraestrutura, a trégua temporária de 18 de março.
19 de abril de 2025: Supostamente por razões humanitárias, Putin declara “trégua de Páscoa” das 18h00 (12h00 em Brasília) de 19 de abril à meia-noite de 21 de abril. Ucrânia expressa ceticismo, o presidente Zelenski afirma que ataques com drones continuam. Mais tarde, ele alega que Rússia cometera milhares de violações ao longo do front.
10 de maio de 2025: Rússia declara cessar-fogo unilateral em comemoração aos 80 anos da derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Contudo, a Ucrânia acusa o país de violar sua própria trégua 734 vezes.