Exército de Burkina Faso participa de massacre de civis fulanis, aponta Human Rights Watch

Um massacre conduzido pelas Forças Armadas de Burkina Faso e por milícias pró-governo deixou mais de 130 civis da etnia fulani mortos na região de Boucle du Mouhoun, no oeste do país, durante o mês de março de 2025. A denúncia foi divulgada na segunda-feira (12) pela ONG Human Rights Watch (HRW), que classificou os crimes como potenciais crimes de guerra.

Os assassinatos aconteceram durante a operação “Redemoinho Verde 2”, conduzida por forças especiais burquinenses e milicianos locais conhecidos como Voluntários para a Defesa da Pátria (VDPs). Os ataques teriam começado nos arredores da cidade de Solenzo e se estendido até a província de Sourou.

Testemunhas relataram que centenas de moradores foram cercados e executados, enquanto tentavam fugir por áreas de mata. “A VDP atirava em nós como se fôssemos animais, enquanto drones sobrevoavam nossas cabeças”, contou um criador de gado fulani, de 44 anos, que perdeu oito parentes.

Capitão Ibrahim Traoré, chefe da junta militar que governa Burkina Faso (Foto: twitter.com/capit_ibrahim)

A HRW entrevistou 27 sobreviventes, dois milicianos e quatro membros da sociedade civil entre 14 de março e 22 de abril. Os relatos, vindos de aldeias em Banwa e Sourou, indicam que os ataques foram coordenados com apoio de helicópteros e drones militares, o que demonstra, segundo a entidade, “controle direto de comando”.

“Hoje, em toda a província, não há mais fulanis – todos fugiram, foram mortos ou levados como reféns”, afirmou um homem de 53 anos.

O governo burquinense havia afirmado, em nota divulgada em 15 de março, que as forças de segurança haviam apenas repelido um ataque “terrorista” no dia 10 daquele mês, matando cerca de 100 combatentes. Segundo a nota, mulheres, crianças e idosos usados como “escudos humanos” foram resgatados. Autoridades disseram ainda ter prestado auxílio a 318 pessoas deslocadas na capital, Ouagadougou. No entanto, os relatos colhidos pela HRW apontam que não houve confronto com grupos extremistas na região na data mencionada.

Após o massacre, o grupo Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), ligado à Al-Qaeda, iniciou uma série de ataques de retaliação. Em Tiao, na província de Sourou, uma mulher de 60 anos contou ter visto execuções em massa: “Todos os homens foram executados na frente do centro de saúde. Contei até 70 corpos”. Estima-se que pelo menos 100 civis tenham sido mortos pelos extremistas em resposta à ação militar anterior.

A HRW afirma que o extermínio de civis por forças do governo, milícias aliadas e grupos extremistas islâmicos configura violações graves do direito humanitário internacional. “O governo precisa investigar imparcialmente essas mortes e processar todos os responsáveis”, disse Ilaria Allegrozzi, pesquisadora sênior da organização. “O escopo das atrocidades cometidas em Burkina Faso continua amplamente ignorado.”

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