Eleição de 2026 domina debate do PlatôBR e do Brazil Journal em Nova York

* Com Giuliana Napolitano – do Brazil Journal

NOVA YORK – A nova ordem econômica mundial foi o pano de fundo, mas o que dominou a cena foi a política brasileira. Como parte da série de debates sobre o Brasil que ocorrem nesta semana em Nova York, a disputa presidencial de 2026 foi o foco central de um almoço promovido pelo PlatôBR e o Brazil Journal nesta quarta-feira, 14, com palestra do Nobel de Economia Paul Krugman e discussões sobre as perspectivas políticas e econômicas para o futuro próximo no país.

Um dos debatedores convidados, o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), admitiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível por oito anos, pode estar na disputa com o presidente Lula no ano que vem. Ao mesmo tempo, criticou a desorganização da direita em torno de um nome e a falta de um candidato de centro que consiga agradar o eleitor farto da polarização. No painel, mediado pelo diretor de redação do PlatôBR, Rodrigo Rangel, Motta disse ainda que a esquerda está mais competitiva para a disputa por ser governo. Para ele, porém, falta um projeto de país nos dois lados.

“A direita está mais desorganizada do ponto de vista de nomes. São muitos nomes colocados. E a dúvida é: esses nomes estarão unidos em 2026? Poderão estar ou não. Isso vai dizer muito de como será o desempenho da direita”, afirmou. Indagado se acredita na possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro concorrer, respondeu: “Em 2018, tivemos o presidente Lula preso, colocou sua candidatura e passou para o ministro Fernando Haddad. Quatro anos depois, tivemos toda uma mudança do ponto de vista jurídico e ele se tornou presidente República”.

“No Brasil, as certezas que temos não são permanentes”, emendou Motta, acrescentando que trabalha “sempre com possibilidade de mudança”, já que o Judiciário pode rever suas posições como já fez em outros casos. “Para que não incorra em erro, trabalho com todas as possibilidades”.

Para Hugo Motta, falta “interesse na esquerda e na direita de discutir as questões importantes para o Brasil”. Ele afirmou que a direita “é tão corporativista quanto a esquerda” e, com isso, cada uma fala “para suas bolhas e o Brasil vai perdendo oportunidades”. O presidente da Câmara defendeu que se discuta as questões que afetam a vida real e citou, entre elas, reforma administrativa, inovação no setor público e isenções fiscais. “Não dá mais para carregar R$ 650 bi por ano em isenções fiscais. O Brasil não aguenta isso. A conta está muito alta para todo mundo”.

“É difícil bater Lula”, diz Renan Filho
Sentado ao lado de Hugo Motta, o ministro Renan Filho (Transportes) defendeu o chefe: “É muito difícil bater Lula na urna”. Ele reforçou a leitura de Motta acerca da desorganização da direita e disse que o eleitor brasileiro torce por um candidato da direita moderada. “Se vier pela escolha de Bolsonaro, virá a direita radical”. Segundo ele, o presidente Lula, independentemente da preferência de cada um, “é um líder que ninguém acha radical”. “É um moderado. Conversa com todos”. Por isso, defendeu o ministro, “só quem tem capacidade de liderar o centro numa aliança é o Lula”.

Para o governador Cláudio Castro (Rio de Janeiro), que pertence ao mesmo partido de Bolsonaro, o PL, não é bem assim. Ele afirmou que, nas últimas eleições, o Brasil se mostrou um país de direita. Castro defendeu que há hoje um descolamento entre o que o que governo Lula pensa e o que a população quer. “Isso se reflete nas pesquisas de opinião pública”, disse, destacando o desempenho ruim do governo. “O que será determinante para a próxima eleição é entender que o eleitor começou a votar em quem entrega política pública de verdade”, afirmou. O governador fluminense apontou Bolsonaro como “líder” da direita brasileira e, com argumentos similares aos de Hugo Motta, disse acreditar nas chances de o ex-presidente estar no jogo eleitoral do próximo ano.

Ometto defende controle de gastos e reformas
No painel sobre o cenário econômico, Rubens Ometto, controlador da Cosan, defendeu que o populismo não funciona mais e que o que mata o empresário hoje no país é o custo para tomar dinheiro emprestado para produzir. “Mas os juros não vão baixar na canetada”, disse. “Temos que ter controle de gastos, fazer reforma da previdência e administrativa. Não tem como aumentar eficiência do Estado sem fazer uma reforma”, prosseguiu Ometto, em conversa mediada pelo fundador do Brazil Journal, Geraldo Samor.

Daniel Goldberg, sócio da gestora Lumina Capital, defendeu que a esquerda é boa para organizar políticas públicas do lado da demanda, com a concessão de subsídios, mas não do lado da oferta. “Subsídios para comprar imóveis tornam os imóveis mais caros”, exemplificou. Para ele, “a esquerda precisa aprender a deixar o capital construir as coisas”, sem intervenções que acabam gerando dois países dentro de um só – um que dá certo e outro que não dá.

Para Marcos Lutz, chairman da Ultrapar, há duas economias rodando no Brasil: a que cumpre a lei e a que não cumpre. “Essa segunda cresce mais rápido e dá mais retorno sobre o capital. Vai acabar ganhando”, alertou, dando como exemplo os distribuidores ilegais de combustíveis. Ele destacou ainda que o mundo vive uma situação especial, cheio de problemas, e o Brasil tem atrativos para se diferenciar. No entanto, defendeu, “precisamos organizar o fiscal para trazer os juros para um patamar normal ou vamos perder a oportunidade mais uma vez”.

Goldfajn, governadores e o fator eficiência
O último painel da tarde, com apresentação da repórter Sheila D’Amorim, do PlatôBR, debateu a necessidade de mais eficiência no setor público como forma de atrair mais investimentos. Participaram os governadores Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Raquel Lyra (Pernambuco) e Renato Casagrande (Espírito Santo), além do presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Ilan Goldfajn. Todos foram unânimes ao defender que os estados precisam diferenciar eficiência de eficácia. “Não adianta fazer de maneira eficiente algo que não importa. É preciso definir prioridades e executá-las com eficiência”, afirmou Goldfajn.

Os governadores Raquel Lyra, Eduardo Leite e Renato Casagrande no painel mediado por Sheila D'Amorim

Os governadores Raquel Lyra, Eduardo Leite e Renato Casagrande em um dos painéis, mediado por Sheila D’Amorim

Eduardo Leite destacou que, em seu estado, foi preciso ganhar eficiência na gestão para poder recuperar a capacidade de investimento e isso exige muito esforço para fazer as reformas necessárias acontecerem. Raquel Lyra lembrou que, quando assumiu, seu estado estava estagnado justamente por perdido a capacidade de investir. “Se quiser fazer mudança de verdade, tem que enfrentar o caminho que não é o mais fácil porque esse outros fizeram e não deu certo”. Ela disse que um dos problemas no Brasil é o político “sair de uma eleição pensando na próxima e quem faz isso, geralmente, não consegue melhorar a vida das pessoas”. Para Casagrande, é preciso tentar vencer a burocracia para que as coisas possam acontecer. Com um percentual de investimento de fazer inveja aos colegas (20% da receita do estado), ele destacou que o desafio do momento é “incorporar tecnologia” na gestão pública.

Krugman e o cenário sob Trump, inclusive para o Brasil
Para Paul Krugman, poucos países no mundo estão “tão isolados” das repercussões negativas do tarifaço do presidente Donald Trump quanto o Brasil. O Nobel de Economia observou que, além de os Estados Unidos não serem o principal destino para as exportações brasileiras, o país ainda concentra suas vendas em commodities, como petróleo e soja, o que diminui a dependência. “Em geral, essas commodities são negociadas nos mercados mundiais e o que acontece nos Estados Unidos importa apenas na medida em que afeta os preços das commodities no mundo como um todo”, disse Krugman ao colunista Guilherme Amado, do PlatôBR.

Para o economista americano, um cenário mais pessimista para o Brasil só se daria em caso de “colapso de toda a ordem econômica internacional”. E, para isso, acredita, seria necessário que os demais países imitassem a política protecionista que Trump tenta implementar nos Estados Unidos. “Até agora, não vejo isso acontecendo”, afirmou, ressaltando que por enquanto “parece que o resto do mundo está tentando encontrar maneiras de manter o sistema global sem os Estados Unidos”.

Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, fala no evento do PlatôBR e do Brazil Journal

Krugman, Nobel de economia, em entrevista ao colunista Guilherme Amado

Krugman apontou um cenário de incerteza para economia americana, especialmente com relação à trajetória da inflação. Destacou o risco de as expectativas futuras alimentarem a inflação atual e fez duras críticas à forma como Trump e sua equipe estão implementando a política comercial. “Se houver um ambiente em que todos estão aumentando os preços devido às tarifas, pode ser que consigam fazer isso porque as pessoas pensam que é o padrão. Assim, pode haver alguma inflação adicional”.

O debate “Brasil: 2026 é logo ali” foi realizado pelo PlatôBR e pelo Brazil Journal e oferecido pela Cedae, com apoio da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.

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