Pesquisadores britânicos descobriram que versão de documento, comprada pela universidade americana por 27,50 dólares em 1946, é exemplar raro de grande importância histórica que vale milhões.A Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, acreditou por décadas que tinha uma cópia ordinária da Carta Magna em sua coleção. Mas o documento manchado e desbotado, comprado em 1946 por 27,50 dólares, é, na verdade, um exemplar original e extremamente raro, concluíram pesquisadores britânicos.
Trata-se de uma das sete versões sobreviventes do documento emitido pelo rei britânico Eduardo 1º em 1300. A Carta Magna original foi assinada em 1215 pelo rei João, também britânico, e estabeleceu o princípio de que o rei e seu governo estão sujeitos à lei, um dos fundamentos da Declaração de Independência dos EUA e da Constituição americana (ambas do fim do século 18) e de outras constituições pelo mundo. Há apenas quatro cópias do original.
“Minha reação foi de espanto e, de certa forma, de admiração por ter conseguido encontrar uma Carta Magna até então desconhecida”, disse David Carpenter, professor de história medieval do King’s College de Londres.
Ele pesquisava o site da biblioteca da Faculdade de Direito de Harvard em dezembro de 2023 quando se deparou com o documento digitalizado. “Primeiro, encontrei um dos documentos mais raros e mais significativos da história constitucional mundial”, disse. “Em segundo lugar, é claro, fiquei surpreso com o fato de Harvard ter guardado por todos esses anos sem saber do que se tratava.”
O que fizeram os especialistas?
Carpenter juntou-se a Nicholas Vincent, professor de história medieval da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, para confirmar a autenticidade do documento.
Ao comparar o achado com as outras seis cópias de 1300 até então conhecidas, Carpenter e Vincent descobriram que as dimensões e a caligrafia coincidiam. Eles então recorreram a imagens que os bibliotecários de Harvard obtiveram usando luz ultravioleta, que ajuda a revelar detalhes invisíveis ao olho humano. Eles encontraram características iguais às dos outros originais assinados por Eduardo 1º em ato conhecido como Confirmação das Cartas.
“A Carta Magna de Harvard merece ser celebrada, não como uma mera cópia, manchada e desbotada, mas como um original de um dos documentos mais significativos da história constitucional mundial, uma pedra angular das liberdades passadas, presentes e ainda a serem conquistadas”, disse Carpenter.
A revelação sobre o documento surge no momento em que a Universidade de Harvard foi impedida de receber novos subsídios federais pelo governo de Donald Trump, o que muitos críticos consideram uma violação de alguns dos princípios fundamentais consagrados na Magna Carta.
A biblioteca da Faculdade de Direito de Harvard comprou a cópia em 1946 de um negociante de livros de Londres por 27,50 dólares, o equivalente a cerca de 470 dólares (R$ 2.654) atualmente, segundo a calculadora de inflação do Departamento do Trabalho dos EUA. Na época, ele foi erroneamente datado como sendo de 1327.
Uma versão de 1297 da Carta Magna foi vendida num leilão em 2007 por 21,3 milhões de dólares (R$ 120 milhões), o que dá uma noção do valor financeiro da descoberta. Entretanto, não está nos planos de Harvard vender o achado.
sf (DW, AP)