Um encontro marcado apenas para as manchetes

Havia grande expectativa pelo primeiro encontro diplomático formal entre russos e ucranianos em mais de 3 anos. O local escolhido foi o mesmo da última ocasião, a ponte entre Ocidente e Oriente, a Turquia. A Guerra da Ucrânia teve poucas alterações territoriais nos últimos 12 meses, mas uma escalada assustadora da violência, sobretudo em áreas residenciais e com grande acréscimo no número de vítimas civis.

Ataques aéreos em cidades como Sumy e Kharkiv produziram imagens horrendas e incentivaram os norte-americanos a pressionar ainda mais os russos pela paz. A postura irredutível dos europeus e ucranianos em nome do direito internacional e a moral do invadido, logo fora substituída por repetidos pedidos de um cessar-fogo de pelo menos 30 dias. A afabilidade de Donald Trump para Vladmir Putin também deu espaço para discursos mais veementes exigindo uma pausa imediata nas hostilidades. Em ambos os casos, o silêncio do Kremlin falou mais alto.

A reconciliação americano-ucraniana selada na Basílica de São Pedro, levou a Ucrânia a adotar uma postura mais ativa em busca de minimizar os já bilionários prejuízos, e principalmente, evitar novas avenidas ensanguentadas como as de Sumy no Domingo de Ramos. A mão estendida de Zelensky nas últimas semanas esperava uma reação russa mais pragmática e que, de fato, se encaixasse com a narrativa oficial do governo russo de que estaria pronto para um fim à guerra. 

Inicialmente o encontro costurado na Turquia aconteceria de forma rápida e espontânea, após um contato mais sólido entre as lideranças russas e ucranianas pelo telefone. A presença do presidente norte-americano, Donald Trump, no Oriente Médio no mesmo período, também se mostrava como uma promissora coincidência que poderia concretizar o encontro pessoal de Putin e Zelensky e agilizar o processo de paz.

A confirmação de presença se deu só pelo presidente ucraniano, enquanto até a última hora, os nomes dos demais presidentes não constavam em suas respectivas listas. Os norte-americanos até deslocaram seu Secretário de Estado, Marco Rubio, para Istambul, mas os russos, enviaram apenas vice-ministros e outras figuras de terceiro escalão sem nenhum poder de decisão para selar um cessar-fogo e muito menos por um fim a uma guerra. A comitiva enviada por Moscou, foi tratada como delegação “decorativa” pelo presidente ucraniano, argumentando que a ausência de Putin, apenas comprova a sua falta de vontade de realmente concluir o conflito.

cta_logo_jp
Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!

Donald Trump que segue em viagem pelo Oriente Médio com uma agenda muito mais econômica do que política, disse brevemente que nenhum caminho para uma paz duradoura e justa pode ser alcançado sem que primeiro haja um encontro formal entre ele e Vladmir Putin. As mesmas justificativas foram reproduzidas por Marco Rubio em Istambul. Zelensky, que esteve em Ancara pela manhã, disse que não comparecerá a uma reunião, na qual não fale diretamente com quem comanda as tropas ou a política externa, portanto, cancelou também a sua presença, mas disse que mandaria uma delegação. A esperança para evitar um fiasco completo, é que as delegações na Turquia possam ter pelo menos uma rodada preliminar de conversas como um gesto de boa fé.

Esse episódio diplomático nos mostra mais uma vez que além das centenas de milhares de mortos e da guerra de infantaria, a guerra midiática e semiótica é travada de maneira dura, determinando os próximos passos. A escolha de Putin em se ausentar, não ressalta apenas a circunstancial escolha dos russos em ainda não resolver a guerra pela via diplomática, mas principalmente manda a mensagem que o presidente russo não se vê como um igual ao seu homólogo ucraniano, seja pela sua superioridade militar de seu país, seja pela sua posição geopolítica privilegiada.

A fragilizada Ucrânia sabe que não possuí mais muitas cartas na mão além de conceder entrevistas, mostrar sua indignação com o desrespeito e seguir a espera de um próximo encontro real. Enquanto reuniões para a paz estampam as manchetes como uma ilusão animadora, o futuro do Leste Europeu começará a ser decidido apenas quando Vladimir Putin e Donald Trump derem o primeiro aperto de mão neste ano.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.