Cizeta-Moroder V16T: o supercarro excêntrico que quase deu certo

Não se sinta mal caso você, entusiasta do universo automotivo, nunca tenha ouvido falar do Cizeta-Moroder V16T. Pouco se fala sobre esse carro hoje em dia, e um dos principais motivos para isso é que o projeto, que parecia promissor, terminou em ruínas.

A obra que provavelmente melhor conta a história desse excêntrico carro esportivo é o livro “16: Pictoral History of Cizeta Automobili”, escrito por Brian Wiklem e publicado pela editora Everbest em 2012.

Claudio Zampolli, o “pai” da Cizeta, nasceu em Modena, na Itália. Foi funcionário da Lamborghini até se mudar para os Estados Unidos para trabalhar na manutenção de esportivos exóticos.

Na Califórnia, Zampolli construiu uma boa relação com celebridades do cinema e do mundo da música, que levavam seus carros à oficina do italiano. Foi por meio dessa rede de contatos que Claudio conheceu o produtor e compositor musical Giorgio Moroder, que posteriormente viria a ser seu sócio na construção do esportivo V16T.

Assim nascia a Cizeta-Moroder. “Cizeta”, aliás, corresponde às iniciais de Claudio Zampoli escritas por extenso em italiano.

Nos anos 80, Zampolli vendeu sua coleção de carros esportivos para iniciar a empreitada de criar seu próprio carro. Essa, diga-se de passagem, não era uma coleção qualquer. Ela contava com carros icônicos da Ferrari e Lamborghini. Segundo estimativa do veículo jornalístico Hagerty, esses carros valem hoje, somados, cerca de US$ 55 milhões (ou R$ 311,5 milhões), já que eles ganharam valor com o passar das décadas.

Em uma tentativa de entregar mais do que os esportivos da época, o Cizeta foi equipado com um motor V16, com quatro cilindros a mais do que os concorrentes V12. O V16 tinha litragem 6.0,  64 válvulas, oito eixos de comando, dois sistemas de injeção de combustível, quatro cabeçotes e duas correntes de comando. Produzia a potência declarada de 547 cv a 8.000 rpm e 55 kgfm de torque a 6.000 rpm.

O modelo tinha que ser confiável e, até certo nível, prático. Zampolli sabia, desde a época que trabalhava em sua oficina na Califórnia, que uma das principais queixas dos consumidores norte-americanos para os esportivos italianos era direcionada ao quanto eles eram frágeis e quebravam muito. Portanto, em seu carro, Zampolli tinha que fazer melhor.

Se o design do V16T lhe parece familiar, saiba que não é apenas uma impressão sua: o modelo foi desenhado por Marcello Gandini, designer italiano que assinou carros icônicos como os Lamborghini Countach e Diablo.

Boa parte dos engenheiros responsáveis pelo V16T vieram da Lamborghini, como Oliviero Pedrazzi, que projetou o motor do Cizeta. Alguns dos fornecedores de componentes também eram os mesmos da marca italiana.

O carro contava com os clássicos farois pop-up, comuns em esportivos dos anos 90. Mas, como o V16T tinha “mais” de tudo, havia dois faróis pop-up de cada lado do capô. No interior, o modelo contava com mais conforto que seus concorrentes, dispondo de ar-condicionado funcional e vidros elétricos.

Moroder injetava dinheiro no projeto, enquanto que Zampolli comandava a parte técnica. Um evento de lançamento foi realizado na Califórnia em 1988, onde o carro foi apresentado ao público pelo comediante norte-americano Jay Leno.

A partir daí, os problemas começaram a ficar evidentes. Havia uma lentidão no processo de finalização do carro, homologação e produção dos carros dos clientes que já haviam feito depósito. O livro de Brian Wiklem e reportagens relatam o descontentamento de Moroder com a demora.

Moroder chegou a tentar obter componentes com fornecedores Porsche para finalizar o projeto, o que acabou gerando um atrito com Zampolli. Os dois então dissolveram a parceria. Moroder acabou ficando com o primeiro protótipo do V16T, que permanece em sua garagem até os dias de hoje.

A produção dos carros dos clientes seguiria com Zampolli, de forma lenta. Outro fator que minou o sucesso do modelo foi que o V16T não conseguiu homologação nos EUA. Ainda havia esperança, com pedidos vindos da Ásia. Contudo, a recessão dos EUA em 1990 e a crise econômica japonesa selaram o destino da Cizeta-Moroder (que, nesse momento, era apenas Cizeta).

Nove unidades do V16T haviam sido produzidas quando Zampolli encarou a falência. Em 2003, uma unidade conversível do modelo, batizada de Cizeta Fenice TTJ Spyder, foi finalizada para um cliente italiano.

Entretanto, a história dessa marca não terminou aí. Vale mencionar que Zampolli processou o Jay Leno em US$ 150 milhões, alegando difamação por comentários que o comediante teria feito a respeito dele. O processo foi arquivado. Posteriormente, Zampolli foi processado por seu próprio advogado.

A lista de desafetos de Zampolli não termina por aí. Em seu perfil oficial no Facebook, o empresário já atacou pessoas como Valentino Balboni, ex-piloto de testes da Lamborghini, e até Briam Wiklem, autor do livro com quem Zampolli havia colaborado anteriormente para contar a história do V16T.

Mesmo após tudo isso, Zampolli ainda possui a oficina que funcionou como a última base para a Cizeta, localizada na Califórnia.

Unidades nas ruas

A Cizeta não se tornou a empresa bem sucedida que seus sócios idealizavam no início, mas talvez não seja adequado classificá-la como um completo fracasso, já que o carro chegou à produção e algumas unidades ganharam as ruas.

No nicho dos superesportivos “artesanais”, o V16T é reverenciado até hoje. Claudio Zampoli, mesmo com todas as polêmicas jurídicas e pessoais envolvendo seu nome, foi ousado na criação de um esportivo próprio com um motor que ia além do que qualquer outro carro oferecia na época.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Cizeta-Moroder V16T: o supercarro excêntrico que quase deu certo no site CNN Brasil.

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