Allan Souza Lima não tem dado trégua ao ofício, e nem quer. Emendando projetos que transitam entre o popular e o experimental, o ator vem construindo uma filmografia que aposta em densidade narrativa e comprometimento estético — e, agora, após concluir as gravações da segunda temporada de “Cangaço Novo”, série do Prime Video que o consagrou como o protagonista Ubaldo, ele já se vê novamente imerso em dois novos longas-metragens.
O primeiro, “Lusco-Fusco”, é um drama independente, dirigido por Bel Bechara e Sandro Serpa, que demonstra a força da sororidade.
A obra encontra em Allan um personagem quebrado, atravessado por culpas herdadas e pela impossibilidade de amar sem ferir. A narrativa, no entanto, é inteiramente moldada pela perspectiva feminina, e encontra na união o núcleo de resistência ao ciclo de abusos.
“Eu acredito que a escuta seja o elemento principal do nosso trabalho. Saber ouvir, escutar… Eu sempre tive um processo de trabalho muito intuitivo na criação dos personagens, e, principalmente em relação a algo tão delicado, que envolve violência doméstica e uma equipe majoritariamente composta por mulheres, eu acho que é fundamental ter a escuta e lugar de fala delas”, comenta.
Hoje, Allan está nos ensaios e filmagens de “Talismã”, drama dirigido por Thais Fujinaga, que acaba de iniciar sua produção em Porto Alegre. No longa, ele contracena com Fernanda Chicolet num registro de corporeidade mais solar: os dois vivem um casal de professores de dança, cujas relações — tanto no palco quanto fora dele — serão colocadas à prova por perdas e reinvenções.
Não por acaso, ele tem bagagem para isso. Em 2018, participou da quarta temporada do reality “Dancing Brasil”, da Record TV, e terminou como vice-campeão: “Eu digo que o corpo tem memória. A fotografia está registrada. Para mim, o ‘Dancing Brasil’ foi uma faculdade intensa, e foi uma grande experiência artística. Fazendo esse filme agora, eu digo que, a cada trabalho, você vai entendendo por onde o seu personagem pode ser guiado como ponto de partida — e neste, com toda certeza, é a dança”.
“Eu comecei a entender o meu corpo para entender onde esse personagem poderia ir. O ‘Dancing Brasil’ me ajudou a estar aqui hoje, fazendo um trabalho tão delicado e tão bonito, que é com a dança. É uma arte muito bonita, e estou feliz em estar executando esse projeto com tanta gente boa”, completa o ator.
Enquanto os projetos se sucedem sem pausa, e sem perda de intensidade, Allan vai consolidando seu lugar no audiovisual brasileiro: o de um ator que se movimenta entre gêneros, plataformas e tons com compromisso e entrega muito claros.
“Em algum momento, percebi que entrei numa frequência mais comercial, e que precisava retomar e também me reapropriar da minha essência. Quando se fala de cinema, penso no cinema autoral, em buscar um pouco a minha raiz ali”, diz Allan.
“Comecei minha carreira transitando, participando de tantos festivais — como diretor, como ator — e, sem querer, a vida vai te encaminhando para um lugar que, às vezes, se você não tiver um direcionamento de carreira, se não pensar para onde ela está se encaminhando, você pode se perder dos objetivos e das reais aspirações”, complementa.
“A minha ideia, neste primeiro semestre, foi explorar filmes mais autorais, trabalhar mais com o cinema autoral — com tanta gente talentosa com quem estou trabalhando e ainda quero trabalhar. Isso também foi um dos fatores que me fez pensar em expandir minha carreira para o México. Vejo lá um grande potencial, já venho estudando muito sobre o mercado mexicano e pretendo voltar para lá em breve. Então, acho que isso é o que a gente tem que estar mais atento: se você não busca conduzir sua carreira, o mercado tende a decidir por você”, finaliza.