VATICANO, 17 MAI (ANSA) – O papa Leão XIV fez um apelo neste sábado (17) pelo desenvolvimento de um “sentido crítico” para enfrentar a nova revolução em andamento, defendendo que a Doutrina Social da Igreja Católica dê voz aos pobres, tendo em vista que é um “instrumento de paz e diálogo para construir pontes de fraternidade”.
“No contexto da revolução digital em curso, o mandato de educar para o sentido crítico deve ser redescoberto, explicitado e cultivado, contrariando as tentações opostas, que também podem atravessar o corpo eclesial”, alertou ele perante os religiosos da Fundação ‘Centesimus Annus Pro Pontifice’, que realizaram uma assembleia anual e promoveram uma conferência internacional, em Roma.
Segundo o Santo Padre, “há pouco diálogo à nossa volta, e prevalecem as palavras gritadas, não raro as notícias falsas e as teses irracionais de alguns prepotentes”.
Leão XIV desafiou ainda os participantes a promover “o encontro e a escuta dos pobres”, porque “quem nasce e cresce longe dos centros de poder não deve ser simplesmente instruído na Doutrina Social da Igreja, mas reconhecido como seu continuador e atualizador”.
Para ele, “os testemunhos do compromisso social, os movimentos populares e as diversas organizações católicas de trabalhadores são expressão das periferias existenciais onde resiste e sempre brota a esperança”. “Recomendo que vocês deem a palavra aos pobres”, apelou.
Durante a audiência, Robert Francis Prevost lembrou que “o tema da conferência deste ano- ‘Superar as polarizações e reconstruir a governança global: os fundamentos éticos’ – vai ao cerne do significado e do papel da Doutrina Social da Igreja, um instrumento de paz e diálogo para construir pontes de fraternidade universal”.
O novo pontífice recordou ainda que o papa Leão XIII – que vivem em um período histórico de transformações marcantes e disruptivas ? já tinha como objetivo contribuir para a paz estimulando o diálogo social, entre capital e trabalho, entre tecnologias e inteligência humana, entre diferentes culturas políticas, entre Nações”.
Além disso, lembrou que seu antecessor, o papa Francisco, usou o termo “policrise” para evocar a dramaticidade da situação histórica que vivemos, na qual convergem guerras, mudanças climáticas, desigualdades crescentes, migrações forçadas e combatidas, pobreza estigmatizada, inovações tecnológicas disruptivas, precariedade do trabalho e dos direitos”.
“Em questões tão importantes, a Doutrina Social da Igreja é chamada a fornecer chaves interpretativas que coloquem a ciência e a consciência em diálogo, dando assim uma contribuição fundamental ao conhecimento, à esperança e à paz”, disse.
De acordo com o pontífice, a Doutrina Social, de fato, “nos ensina a reconhecer que mais importante do que os problemas, ou as respostas a eles, é o modo como os enfrentamos, com critérios de avaliação e princípios éticos e com abertura à graça de Deus”.
“Vocês têm a oportunidade de mostrar que a Doutrina Social da Igreja, com seu olhar antropológico próprio, pretende favorecer um verdadeiro acesso às questões sociais: ela não quer levantar a bandeira da posse da verdade, nem no que se refere à análise dos problemas, nem na sua resolução”, enfatizou.
Por fim, Prevost explicou que, nestas questões, “é mais importante saber como abordar do que dar uma resposta precipitada sobre por que algo aconteceu ou como superá-lo”, lembrando que o “objetivo é aprender a enfrentar os problemas, que são sempre diferentes, porque cada geração é nova, com novos desafios, novos sonhos, novas perguntas”.
Segundo o Papa, “aqui temos um aspecto fundamental para a construção da ‘cultura do encontro’ por meio do diálogo e da amizade social”. “Para a sensibilidade de muitos dos nossos contemporâneos, a palavra ‘diálogo’ e a palavra ‘doutrina’ soam opostas e incompatíveis”. (ANSA).