PlatôBR: Inevitável ao governo, CPMI vai antecipar polarização dos palanques de 2026

O governo desistiu de lutar contra a instalação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) proposta por duas oposicionistas, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e a deputada Delegada Fernanda (PL-MT), para investigar o escândalo dos descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS. Com isso, a leitura do requerimento deve ser feita pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), na próxima sessão do Congresso Nacional, prevista para o dia 27 de maio. Se realmente for instalada, a CPMI promete ser o principal palanque de enfrentamento entre bolsonaristas e petistas, com farta produção de material para as redes e de narrativas para a corrida eleitoral de 2026.

Os movimentos em torno da CPMI se intensificaram nos últimos dias. Na noite de quinta-feira, 15, o presidente do Senado se reuniu com a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais),) e avisou que não tinha mais condições políticas de segurar a leitura do requerimento para a criação da comissão. Apesar das viagens internacionais feitas com Lula, e das frequentes reuniões entre os dois, Alcolumbre precisa atender à oposição que conseguiu os números de assinaturas de deputados e senadores para a realização da investigação das fraudes no INSS.

Nesta sexta-feira, 16, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), amanheceu na residência oficial do Senado. De lá, foi para o Palácio da Alvorada, para se reunir com o presidente, Gleisi e os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação). Wagner levou ao grupo a posição de Alcolumbre.

Gleisi ainda resiste a assumir em público a rendição do governo em relação à criação o colegiado. “Uma CPMI, no ambiente de exploração política em que está sendo proposta, pode comprometer o sucesso da investigação policial, que deve permanecer protegida de interferências externas e do vazamento de informações”, ressalvou. “Também pode atrasar o ressarcimento das vítimas, já que sua duração está prevista para seis meses, impactando nos procedimentos já em curso”, defendeu.

Diante da iminência da instalação da comissão, a bancada do Planalto luta para ocupar postos-chaves no colegiado e dominar a narrativa. Um nome cotado pelo governo para a relatoria é o da deputada Tabata Amaral (PSB-SP). Nas negociações, o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), condicionou o apoio ao requerimento à inclusão nas investigações de possíveis irregularidades ocorridas no governo de Jair Bolsonaro e de Michel Temer.

Rogério Marinho: atacante da oposição e alvo da bancada governista
Um sinal de que requerimento de Damares e Fernanda será lido é que bolsonaristas e o governistas já se municiam de dossiês para tentar constranger o outro lado. As estratégias estão sendo montadas por assessores ligados às lideranças do PT e do PL. Pela preparação, a briga se dará sob a lógica de tentar neutralizar os argumentos do adversário e, ao mesmo tempo, contra-atacar.

O foco dos adversários do Planalto é questionar a demora do governo em investigar e, com essa acusação, imputar a Lula crime de responsabilidade. Líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), crítico da “seletividade” das apurações, entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República para pedir que a AGU (Advocacia-Geral da União) seja investigada.

Marinho argumenta que a AGU deixou de acionar judicialmente diversos grupos, muitos dos quais seriam administrados por “laranjas” e empresas de fachada, responsáveis por operacionalizar os descontos não autorizados.

Do lado do Planalto, os ataques apontam para alguns ex-integrantes do governo Bolsonaro. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), indicou que um os alvos será o próprio Rogério Marinho, líder da oposição, que foi ministro da Previdência no governo anterior, ferrenho oposicionista e defensor da CPMI. Outro personagem no radar do governo é José Carlos Oliveira, que presidiu o INSS entre novembro de 2021 e março de 2022 e, depois, foi nomeado ministro do Trabalho de Bolsonaro. A suspeita é ele teria autorizado a criação de várias das entidades investigadas pela CGU e pela PF.

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