Mesmo após prometer a liberação de “quantidades mínimas” de comida para Gaza, o governo de Israel ainda não permitiu a entrada de qualquer tipo de ajuda humanitária no enclave palestino, que está sob cerco total desde 2 de março. O anúncio foi feito na noite de domingo (18), poucas horas antes do lançamento de uma nova ofensiva terrestre, segundo a rede Al Jazeera.
Na manhã desta segunda-feira (19), aviões israelenses realizaram ao menos 30 bombardeios em uma única hora na região de Khan Younis, no sul de Gaza. Segundo fontes médicas locais, ao menos 71 palestinos foram mortos desde o amanhecer, elevando o total de mortos na semana para 464 — entre eles, muitas mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Em pronunciamento em vídeo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que a decisão de liberar alimentos foi tomada após “preocupação de aliados” com as imagens de fome.
“Nossos maiores amigos no mundo disseram: ‘Há uma coisa que não podemos aceitar. Não podemos aceitar imagens de fome, fome em massa’”, afirmou. “Portanto, para alcançar a vitória, precisamos de alguma forma resolver esse problema.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a fome já atinge dois milhões de pessoas na Faixa e que 160 mil toneladas de alimentos estão paradas na fronteira, a minutos de distância.
“Duas meses após o novo bloqueio, duas milhões de pessoas estão famintas”, disse o diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, durante a abertura da Assembleia Mundial da Saúde. “Pessoas estão morrendo de doenças evitáveis enquanto medicamentos esperam na fronteira, e ataques a hospitais negam atendimento e impedem que as pessoas busquem socorro.”
Apesar do anúncio de Netanyahu, autoridades palestinas afirmaram que não foram informadas sobre quando ou como os suprimentos poderão entrar. “Israel permitirá uma quantidade básica de comida para a população para garantir que uma crise de fome não se desenvolva”, afirmou o gabinete do premiê, sem detalhar prazos.
Internamente, o governo enfrenta resistência de ministros da ala ultradireitista. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, classificou a liberação parcial de alimentos como um “erro grave”. Já o ministro do Patrimônio, Amichai Eliyahu, disse que a medida “prejudica diretamente o esforço de guerra para alcançar a vitória”.
Ao mesmo tempo em que intensifica os bombardeios, Israel continua envolvido em negociações indiretas com o Hamas no Catar. Fontes afirmam que as conversas envolvem a possibilidade de cessar-fogo e um acordo para libertação de reféns em troca do exílio da liderança do Hamas e da desmilitarização de Gaza — condições já rejeitadas anteriormente pelo grupo palestino.
Em sua fala, Netanyahu reafirmou que a meta da ofensiva é “tomar controle total de todo o território da Faixa”. Segundo ele, “a luta é intensa e estamos progredindo. Vamos assumir o controle de todo o território. Não vamos recuar. Mas, para ter sucesso, devemos agir de forma que não possa ser interrompida”.
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