Triunfos de centristas não detêm fortalecimento da extrema direita na Europa

Os pleitos ocorridos em países da Europa no domingo, 18, foram marcados por vitórias de candidatos considerados de centro, enquanto concorrentes de extrema direita alcançaram colocações expressivas. Especialistas ouvidos pela IstoÉ afirmam que, embora a maioria dos cargos de comando tenha sido ocupada por políticos moderados, os conservadores continuam ganhando força em diversas regiões do Velho Continente.

Na Romênia, o centrista pró-Europa Nicusor Dan venceu a disputa contra o nacionalista George Simion. Antes do pleito, as forças entre os movimentos de extrema direta e a favor da União Europeia estavam equilibradas, mas tudo mudou quando o primeiro turno foi anulado, em novembro de 2024, por supostas interferências russas no resultado.

A Romênia ocupa uma posição estratégica no conflito entre Ucrânia e Rússia, por sua fronteira com o território ucraniano. Essa localização intensificou a disputa por influência dentro do país.

Para Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM e especialista em estudos europeus, a vitória de Nicusor Dan demonstra que a maioria da população romena é mais simpática ao posicionamento da União Europeia em relação ao conflito — que condena a agressão da Rússia contra a Ucrânia — e ao fortalecimento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Eleições na Polônia

O candidato pró-Europa Rafael Trzaskowski e o nacionalista Karol Nawrocki irão disputar o segundo turno da eleição presidencial da Polônia no dia 1° de junho. O resultado vai ditar o futuro do governo do primeiro-ministro Donald Tusk, caracterizado por uma forte política a favor da União Europeia.

Uma pesquisa recente do Instituto Ipsos mostra Trzaskowski com 30,8% das intenções de votos, enquanto Nawrocki aparece com 29,1%.

Carolina Pavese explicou que a situação da Polônia é similar à da Romênia, pois o que está em jogo no país é a escolha entre a integração com a União Europeia e uma agenda nacionalista e conservadora.

Coalização centro-direita vence em Portugal

A coalização de centro-direita AD (Aliança Democrática) ganhou as eleições gerais de Portugal no dia 18 de maio, mas não conseguiu obter maioria no Parlamento e deve tomar posse como um governo minoritário pela segunda vez em apenas um ano.

No período de três anos, essa foi a terceira eleição geral portuguesa — cenário que contribui para a instabilidade política instalada no país há décadas.

Segundo a professora da ESPM, o resultado escancara a insatisfação dos portugueses com a convocação de eleição fora de época, desencadeada pelas dificuldades do Partido Socialista em governar após perder a maioria no Parlamento.

Crescimento da extrema direita

A soberania dos centristas não representa a perda de força da extrema direita no continente europeu, segundo Leonardo Paz, pesquisador do FGV NPII (Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas ). Para ele, o resultado nas eleições da Romênia é um caso atípico por conta das suspeitas de interferência russa no pleito.

“Em Portugal, o partido de extrema direita Chega cresceu [o partido conquistou 24% dos votos]. Na Polônia, Nawrocki  não ganhou, mas a margem é menos de dois porcento em relação a Trzaskowski. Isso significa que, ao observar a referência geral entre os eleitores, a direta está muito forte”, explicou.

Ainda segundo o pesquisador, não há uma movimentação contundente de partidos de centro-esquerda, o que auxilia para o fortalecimento gradual da direita nos países do continente. A visão é compartilhada por Carolina Pavese, que aponta o abandono de agendas progressistas e o enfraquecimento de partidos de esquerda na Europa.

“De modo geral, eleições regionais em localidades estratégicas, como no Reino Unido, e o pleito do parlamento europeu, em 2024, demonstram que há um avanço do extremismo que ameaça as instituições democráticas e coloca e em prática uma agenda radical”, finalizou.

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