Ocorrências analisadas se distribuem em seis estados; duas envolvem granjas comerciais, elevando o risco para o abastecimento nacional. No RS, um novo foco foi confirmado entre cisnes silvestres.Desde a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, as autoridades sanitárias brasileiras já identificaram um novo foco da doença — agora em aves silvestres — e investigam outras seis ocorrências suspeitas.
Entre os casos investigados estão dois possíveis surtos em granjas comerciais – uma localizada no município de Ipumirim, em Santa Catarina, e outra em Aguiarnópolis, no Tocantins. Ambas voltadas à produção de galinha. Os dados foram atualizados nesta segunda-feira (19/05) pelo sistema de Investigação de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves, do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Os outros episódios investigados, todos de produção familiar de aves para subsistência, se distribuem nos municípios de Gracho Cardoso (SE), Salitre (CE), Nova Brasilândia (MT) e em Montenegro (RS).
Já os focos confirmados também incluem o município de Montenegro, onde o vírus foi detectado pela primeira vez em uma granja comercial na última sexta-feira, e a vizinha Sapucaia do Sul, onde cisnes-de-pescoço-preto morreram em um zoológico.
Um caso é considerado suspeito quando as autoridades de saúde são alertadas de sintomas percebidos nas aves. Agentes sanitários, então, coletam amostras e as enviam para um laboratório. No caso de granjas comerciais, se o vírus for identificado em uma única ave, todo o plantel precisa ser sacrificado.
Surto em granja comercial pode gerar maior impacto
Um possível surto de influenza aviária de alta patogenicidade (Iaap), a gripe aviária, em uma instalação comercial é visto com maior receio, já que grandes granjas chegam a abrigar milhões de aves e a infecção pode afetar a distribuição e produção nacional.
Desde a confirmação do primeiro caso em Montenegro, por exemplo, nove parceiros comerciais suspenderam a compra de carne de frango e produtos derivados do Brasil: China, Argentina, União Europeia, México, Uruguai, Chile, Coreia do Sul e Canadá.
Apesar de o foco ainda se concentrar no Rio Grande do Sul, as restrições comerciais, no caso da China e do bloco europeu, abrangem todo o território nacional, por exigências previstas em acordos comerciais com o Brasil.
Além disso, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) afirmou que a descoberta da gripe aviária em uma instalação comercial “marca uma nova etapa na presença do vírus, que até então se limitava a aves silvestres e de criação caseira”.
“Além de representar uma ameaça à saúde animal, o vírus gera uma preocupação crescente […] pelos seus impactos nos sistemas alimentares, na biodiversidade e na saúde pública”, escreveu a organização.
O Brasil é atualmente o maior exportador mundial de carne de frango. Em 2024, o país vendeu 10 bilhões de dólares (R$ 56 bilhões) em produtos avícolas, equivalente a 35% do comércio global.
Ovos foram localizados em três estados
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, os ovos para incubação fornecidos pela granja onde ocorreu o primeiro caso de Iaap foram rastreados e localizados em Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
Segundo a pasta, já foram adotadas as medidas de saneamento definidas no plano de contingência para influenza aviária. O governo de Minas Gerais determinou o descarte de 450 toneladas de ovos fecundados e demais materiais envolvidos, como medida preventiva.
“A iniciativa mostrou-se necessária para manter o controle sanitário, seguindo planos prévios para possíveis ocorrências do tipo, garantindo contenção e erradicação da doença e a manutenção da capacidade produtiva do setor”, informou o governo estadual em comunicado oficial.
Já o governo de Santa Catarina proibiu a entrada de aves e ovos provenientes de 12 municípios gaúchos da região de Montenegro, que possui mais de 500 granjas. 17 mil aves foram sacrificadas no município até o momento.
Impacto na saúde
Como a DW mostrou, não há evidências de que humanos possam ser infectados pelo consumo da carne ou ovos de aves infectadas. A contaminação da gripe aviária em humanos é restrita a pessoas que têm contato com aves infectadas, vivas ou mortas, como tratadores ou profissionais do setor. Nesses casos, a letalidade é alta, de cerca de metade dos casos.
A FAO alerta que, desde 2022, mais de 4.700 surtos de Iaap foram notificados na América Latina e no Caribe, afetando aves de criação, aves migratórias, mamíferos marinhos e até animais de estimação.
Nos EUA, um surto atinge o país desde 2022 e já matou mais de 169 milhões de aves, elevando os preços dos ovos no varejo a máximas históricas.
gq (Agência Brasil, ots)