Protesto reúne dez mil na Hungria contra lei que ameaça imprensa e ONGs

Cerca de dez mil pessoas se reuniram no domingo (18), na Praça Kossuth, em frente ao Parlamento húngaro, para protestar contra um novo projeto de lei que poderá restringir drasticamente a atuação de organizações não governamentais e veículos de imprensa considerados críticos ao governo. A proposta, apresentada por um deputado do partido Fidesz, do primeiro-ministro Viktor Orbán, permitiria ao Estado monitorar, penalizar e até banir entidades classificadas como “ameaças à soberania nacional”. As informações são da agência Associated Press (AP).

A medida, comparada por analistas à controversa “lei do agente estrangeiro” adotada pela Rússia, prevê a criação de uma lista com organizações que recebam qualquer tipo de financiamento externo. Essas entidades estariam sujeitas a fiscalizações invasivas, multas severas e possível proibição de suas atividades.

“Este projeto não é nada mais do que uma ameaça, uma ameaça contra a capacidade das pessoas de expressarem suas opiniões de forma clara e livre”, afirmou o orador Jakab Tóth durante o ato.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán: censura crescente (Foto: Divulgação/European Parliament)

O protesto se soma a uma série de manifestações semanais que vêm ocorrendo há mais de dois meses, após a aprovação de uma lei anti-LGBT em março. A norma proíbe eventos do tipo Parada do Orgulho e autoriza o uso de reconhecimento facial para identificar participantes.

O governo defende a legislação como forma de proteger as crianças daquilo que chama de “loucura de gênero”, enquanto críticos a consideram uma tática para alimentar o conservadorismo e consolidar a base eleitoral do premiê antes das eleições de 2026.

Orbán, que enfrenta o maior desafio político em mais de uma década de poder, acusa ONGs e veículos independentes de atuarem como instrumentos de influência estrangeira — especialmente dos EUA e da Ucrânia — com o objetivo de enfraquecer seu governo.

“Se não pertence a todos nós, se nem todos somos livres, então a soberania é única e exclusivamente a soberania do governo”, disse Tóth, criticando a concentração de poder.

O projeto de lei deve ser aprovado com facilidade, já que o Fidesz detém maioria de dois terços no Parlamento. Desde 2023, o governo criou um órgão específico — o Escritório de Proteção da Soberania — para investigar e acusar entidades que supostamente comprometam os “valores democráticos”, a “unidade nacional”, a “família tradicional” e a “cultura cristã”. A definição ampla permite que até críticas legítimas às políticas públicas possam ser enquadradas como ameaças à segurança nacional.

Diversas organizações acusadas pelo governo afirmam que trabalham seguindo padrões profissionais e que atendem ao interesse público. Elas denunciam que o objetivo do novo pacote legislativo é sufocar vozes dissidentes e enfraquecer o Estado de Direito na Hungria.

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