Entrevista: Red Hat traz sua abordagem aberta para a nuvem

Fundada em 1993, a Red Hat cresceu a partir de seu sistema operacional baseado em Linux. E, ao expandir sua atuação para a área de cloud computing, vem levando sua estratégia baseada em princípios de software livre também para a nuvem. E essa estratégia foi mantida mesmo após a compra da empresa pela IBM, realizada em 2019 por US$ 34 billhões.

“Uma vantagem de nossa relação com a IBM hoje é que eles respeitam totalmente nossa estratégia de parcerias com outras empresas de tecnologia”, conta à coluna Dave Farrell, vice-presidente sênior da Red Hat responsável pelas operações na América Latina. Na entrevista, ele fala também sobre a posição da empresa em relação a aplicações de IA generativa e detalha a parceria com a IBM, entre outros assuntos. Confira a conversa a seguir.

Como a Red Hat vê o atual momento do mercado de cloud da América Latina?

A região da América Latina é a que mais cresce em nossos negócios há cinco ou seis anos. E o Brasil, como seria esperado, é nosso maior mercado na região, seguido pelo México. Entre os setores que mais crescem no Brasil estão o setor público e os grandes bancos. Boa parte dos grandes bancos no Brasil usam nossas tecnologias.

Nossa principal oferta para esse mercado é a plataforma OpenShift, focada em migração para cloud, implementação de ambientes de nuvem híbrida e modernização de estruturas de TI.

Nossa estratégia com a OpenShift é liberdade de escolha. A ideia é dar aos clientes a possibilidade de mesclar ambientes de nuvem híbridos e públicos com facilidade, e também gerenciar aplicações de diferentes provedores de nuvem. Tudo isso por meio de apenas uma solução de software.

Essa liberdade de escolha se estende também para outros aspectos. Um dos desafios atuais de muitas empresas é escolher qual o melhor modelo para suas aplicações de IA generativa. Em muitos casos a resposta é mais de um. E a OpenShift permite escolher vários LLMs e gerenciar todos eles a partir de um só lugar.

Entrevista: Red Hat traz sua abordagem aberta para a nuvem
Dave Farrell, da Red Hat (Crédito:Divulgação)

Qual é a estratégia de negócios da Red Hat em relação a aplicações de IA generativa?

Em relação a aplicações de GenAI, ainda estamos no começo do jogo. A maioria de nossos clientes está na fase de exploração do potencial dessa tecnologia. Muitas empresas estão criando grupos de trabalho para identificar oportunidades de negócio dentro das aplicações de IA.

Então é essa a direção de nossas conversas: o valor para o negócio em primeiro lugar. É interessante haver casos de experimentação. Mas, se não houver valor tangível para o negócio, essas iniciativas não irão longe.

Especificamente no Brasil, temos visto muitos casos interessantes de uso de GenAI para detecção de fraudes. E vemos muita oportunidade no setor público, em soluções que aumentem a eficiência no atendimento à população.

As aplicações de GenAI aumentaram o interesse das empresas também por plataformas de nuvem de modo geral. Como a Red Hat vê a combinação dessas duas tendências?

Apostamos na filosofia aberta em GenAI assim como fazemos com a nuvem. Olhando o mercado de GenAI como um todo, vemos que não haverá um modelo de linguagem dominante. A maioria de nossos clientes já experimenta o uso de vários LLMs, adaptados para diferentes funções. Apostamos em nossa capacidade de oferecer mais liberdade e agilidade para a escolha desses modelos, via OpenShift.

Outra tendência que vemos no mercado é o uso de LLMs mais ‘básicos’. Eles ainda são gigantes, claro, bilhões de tokens. Mas não um trilhão. E em muitos casos esse modelos básicos são suficientes. É o que fazemos com algumas versões do Granite, um LLM feito em conjunto com a IBM. Parte dessa família de modelos foi liberada para uso geral da comunidade de desenvolvedores, por meio de licenças de código aberto. Mas, para deixar claro, não vendemos acesso ao Granite e somos abertos para usar quaisquer modelos disponíveis no mercado.

Com os LLMs mais básicos, o acesso a essa tecnologia também fica mais barato. E abrem-se possibilidades de personalização das aplicações. Muitos de nossos clientes têm preocupações em proteger suas tecnologias e propriedades intelectuais. E trabalhar com um LLM personalizado dá a eles a oportunidade de usar recursos de GenAI em um ambiente privado.

A IBM comprou a Red Hat em 2019 e desde então as empresas têm trabalhado juntas em muitos projetos. Como é essa relação?

A Red Hat tem parcerias com muitas companhias a fim de estimular um ambiente de colaboração e aberto. Temos parcerias com consultorias, fabricantes de hardware, grandes players de nuvem e empresas de outros setores de TI. E entre essas parceiras está a IBM, que é a controladora.

Na área de nuvem, fazemos muita coisa em conjunto com o time da IBM Cloud. O principal ponto aqui é que trabalhamos de forma muito aberta com vários parceiros, e a IBM entende e respeita isso como parte de nossa estratégia. Afinal, temos clientes que trabalham com outras empresas. Eles podem ter relações com consultorias como Delloite ou Accenture, ou com players de nuvem como AWS ou Microsoft.

Especificamente falando da IBM, toda a plataforma de cloud deles roda em soluções da Red Hat, como nosso sistema Linux e o OpenShift. E a própria IBM tem uma relação aberta com os seus clientes de nuvem, que podem ter suas aplicações hospedadas em outros fornecedores. E eles também vendem para o mercado algumas soluções que rodam apoiadas em nossos sistemas.

Temos também uma forte parceria com eles na área de IA. A IBM foi uma das pioneiras nesse campo com a plataforma Watson. E agora com o Watsonx, boa parte das implementações usa o OpenShift.

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