ArcelorMittal tira da gaveta investimento de até R$ 4 bi no Espírito Santo

Em meio à expectativa de medidas mais contundentes por parte do governo federal para frear entrada de aço chinês no País, o grupo ArcelorMittal, do empresário indo-europeu Lakshmi Mittal, informou nesta quinta-feira, 6, que planeja investir até R$ 4 bilhões em sua usina de aço de Serra, na Grande Vitória, no Espírito Santo.

A decisão da companhia ocorre pouco tempo após suspender projeto do mesmo valor previsto para Minas Gerais, em João Monlevade, que se tornou inviável diante de desafios tecnológicos, de perspectivas de demanda e de alta do dólar, que chegou a R$ 6,26 (na tarde desta quinta-feira, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 5,75).

Na siderurgia, trata-se de produtos para diferentes mercados. No caso do projeto capixaba, o foco é o mercado de aços laminados planos, com aplicações nos setores automobilístico, de bens eletrodomésticos e de máquinas e equipamentos. Em Monlevade, com duplicação da oferta de aço longo, os alvos eram os mercados industrial e de construção civil.

O projeto na usina capixaba, há muito tempo estudado pela empresa e esperado com ansiedade pelo governo do Espírito Santo, será composto de duas novas linhas de laminação de aço. Ficará dentro da usina de aços planos operada pela unidade Arcelor Mittal Tubarão, que até o início dos anos 2000 era conhecida como Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST).

A ArcelorMittal não deu entrevistas para comentar o projeto, mas trouxe detalhes em comunicado. Conforme a empresa, serão montados uma laminador de tiras de aço a frio (LTF) e uma linha de revestimento contínuo (vai aplicar um revestimento metálico, garantindo uma maior resistência a corrosão e um acabamento diferenciado ao produto).

A grande vantagem será agregação de mais valor a parte do aço produzido atualmente na forma de laminado a quente, que é vendido no País ou exportado.

A linha de laminação a quente na usina Tubarão, que iniciou operação em agosto de 2002, tem capacidade de fazer 4 milhões de toneladas, processando material bruto (placas).

Parte dessa produção vai para São Francisco do Sul (SC), na unidade Vega, onde se transforma em aços galvanizados, de alto valor.

A parte que é vendida irá abastecer a laminadora a frio, que, segundo pessoa a par do projeto, terá capacidade de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas ao ano.

Anúncio descongela projeto no ES

Maior fabricante de aço do País – 42% do total produzido no ano passado -, com volume equivalente a 15,5 milhões de toneladas de material bruto, a ArcelorMittal informou na nota que o investimento se soma ao programa de R$ 25 bilhões no País entre os anos de 2022 e 2028.

O anúncio significa tirar da gaveta um projeto acalentado por pelo menos duas décadas. O objetivo é gerar mais valor ao atual produto vendido como laminado a quente, que tem algumas limitações de aplicações no mercado.

Segundo a empresa, os estudos de viabilidade técnica foram concluídos e agora o projeto segue os trâmites internos de aprovação dentro do grupo.

Em nota, Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina, afirmou, que “o projeto é mais do que um investimento; é um marco que reforça nosso compromisso com o futuro e com o desenvolvimento do Espírito Santo e do Brasil”.

Ele acrescentou que vai presença da empresa em mercados de alto valor, como automotivo, de eletrodomésticos e construção civil, ao mesmo tempo que aproxima a produção das demandas do consumidor final.

A expectativa é de que a construção dure cerca de três anos após a fase de aprovação pela alta direção da ArcelorMittal – conselho e diretoria que têm à frente a família Mittal, dona de cerca de 40% do capital da companhia.

O grupo, com sede institucional em Luxemburgo e corporativa em Londres, é o segundo maior fabricante de aço do mundo (número 1 no Ocidente), atrás da chinesa Baowu.

Início de produção em 2029

De acordo com a empresa, as fases de engenharia e contratação estão programadas para o primeiro semestre de 2026 e o início de operação das duas linhas para o primeiro semestre de 2029.

Diz ainda que esse projeto vai consolidar a usina de Tubarão como uma das mais integradas no processamento de aços planos do Brasil e do mundo, reafirmando a liderança da ArcelorMittal na indústria do aço global.

Unidade já foi de empresa estatal

Nascida como estatal nos anos de 1980 e conhecida como CST, a usina Tubarão tem capacidade para fabricar atualmente 7,5 milhões de toneladas de placas (aço semi-acabado), a partir de três altos-fornos. Desse volume, mais da metade é transformada em laminado a quente.

A previsão da siderúrgica é de gerar 2,5 mil empregos no pico das obras de instalação das linhas. Quando entrar em operação, estimam-se 450 profissionais para operação.

Segundo Oliveira, o novo investimento não contribuirá com o aumento de emissões atmosféricas ou do consumo de água do Rio Santa Maria da Vitória, utilizado pela companhia atualmente para se abastecer. No Brasil, a empresa emprega 20 mil pessoas, com operações industriais em oito Estados (MG, ES, RJ, SC, CE, BA, SP e MS).

Também produz 5,1 milhões de toneladas de minério de ferro e atua ainda na geração de energia para consumo próprio.

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