Avião tentou pouso forçado e tragédia maior foi evitada em SP, dizem especialistas

Um acidente com um avião de pequeno porte deixou duas pessoas mortas e outras sete feridas na manhã desta sexta-feira, 7, na zona oeste da cidade de São Paulo.

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A aeronave, um Beechcraft King Air F90, decolou do Aeroporto do Campo de Marte, também na capital paulista, por volta das 7h, antes de colidir e explodir a cerca de 10,6 quilômetros do local, na avenida Marquês de São Vicente, no bairro de Barra Funda.

O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) abriu uma investigação sobre o ocorrido, mas o histórico da aeronave e as imagens da queda, gravadas e publicadas nas redes sociais, levantam elementos que podem ajudar a explicar o que aconteceu.

 

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Elementos para análise

Ao site IstoÉ, o especialista em segurança aérea Roberto Peterka e o piloto-comandante de Boeing 777 Rafael Santos afirmaram haver todos os indicativos de que uma tentativa de pouso forçado — e não emergencial –precedeu a queda. “Esse mergulho repentino da aeronave, no geral, é causado por um problema de operação”, acrescentou Peterka.

Para ele, as imagens do acidente indicam que o King Air havia perdido tração. “No momento do mergulho, as pás das hélices estavam em passo bandeira, o que é característico da ausência de tração. Em uma comparação grosseira, uma aeronave sem tração é como um carro engatado em ponto morto: você pode acelerar, mas ele não sairá do lugar”, afirmou.

A Marquês de São Vicente é uma via de tráfego intenso e a aeronave chegou a atingir um ônibus. Registros em vídeo do momento mostram ainda que dezenas de veículos estavam parados em um semáforo a poucos metros da explosão. “Os pilotos habitualmente buscam o local mais seguro para executar essa manobra [pouso forçado], o que é mais complexo diante dessa movimentação no chão”, disse Rafael Santos.

“Dada a gravidade da colisão e as características do local, é possível afirmar que a tragédia poderia ter sido muito maior. Havia grande risco de mortes no solo, o que pode ter sido atenuado pela conduta do piloto [Gustavo Medeiros, a segunda vítima do acidente]”, acrescentou.

As informações divulgadas do trajeto apontaram que, pouco após decolar do Campo de Marte, Medeiros relatou problemas mecânicos à torre de controle. Às 7h16, houve perda de contato entre o avião e os controladores de tráfego aéreo, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública.

“As comunicações entre aeronaves e órgãos de controle que precedem um acidente deste tipo são absolutamente dentro da rotina operacional. Uma dinâmica diferente é adotada somente quando há declaração de emergência”, disse ao site IstoÉ Myron José Coelho, que foi controlador de tráfego da torre do Aeroporto Internacional de Guarulhos por 34 anos e, atualmente, é instrutor técnico de voos da Latam.

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Fabricação e fogo: as dificuldades de investigação

O relato de problemas mecânicos será um dos objetos de apuração do Cenipa. Para Rafael Santos, não há relação entre a fabricação da aeronave, do ano de 1981, e essa intercorrência. “A antiguidade não é medida pelo tempo de produção, mas por ciclos de pressurização [decolagens]. Se as manutenções foram feitas adequadamente, as condições de uso desse modelo são perfeitas”, disse.

Um condicionante do ano de fabricação do King Air F90, por sua vez, é a probabilidade de falta de caixa-preta, cujas gravações são usadas para a apuração de acidentes. “Esse fator dificulta as investigações, mas não as inviabiliza. Mesmo com as gravações da caixa-preta, o objetivo é encontrar uma coincidência entre as ações dos pilotos e o material delas, por meio de análise. Ela ajuda, mas não baseia a investigação”, avaliou Peterka.

“Os investigadores irão analisar, a partir das imagens, como o avião desceu, a gravação das conversas entre o piloto e a torre de comando, que não foram comprometidas, se houve ou não tempo de sanar o problema que afetou os motores da aeronave, que serão desmontados, a sobra de instrumentos que não tenham entrado em combustão e qualquer outro material que possa contribuir para coletar as provas”, concluiu o especialista.

Para Myron José Coelho, o principal entrave para desvendar o caso está justamente na combustão. “As imagens do acidente mostraram muito fogo, que é o grande inimigo dos investigadores. Ele consome evidências que poderiam ser encontradas nos destroços e limita a profundidade da apuração”, disse.

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