Não posso nem sair do X que me deduram, diz Moraes

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, brincou nesta segunda-feira (24) sobre a repercussão gerada com a decisão dele, de deixar o X (antigo Twitter), na última sexta-feira (21).

“Não posso nem sair do X que me deduram”, disse o ministro em tom de brincadeira, ao participar de aula magna na faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Em nota à CNN, na ocasião, o Supremo Tribunal Federal afirmou que o magistrado não utilizava a conta desde janeiro de 2024, por isso decidiu desativá-la.

Moraes comentava, na aula, sobre a crise da democracia e o alinhamento das big techs com grupos de extrema direita.

“Só agora o mundo vem percebendo como foi o encadeamento desse procedimento, de transformar as redes sociais em instrumentos de uma ideologia nefasta que é o fascismo. […] Como que isso foi possível e nós precisamos entender como que foi possível abalar tanto a democracia nesses últimos 10, 15 anos, no mundo todo”, questionou aos alunos presentes.

De acordo com o ministro, a democracia “falhou por possibilitar o surgimento” do que chamou de “novo populismo”.

“Eu me refiro à ele como novo populismo digital extremista, porque é um populismo que, de forma organizada, competente e eficaz, se utiliza das redes sociais para uma doutrinação em massa”, continuou.

Moraes afirmou que, atualmente, retornamos ao discurso do “tio do churrasco”, que, de acordo com ele, surgiu como revolta contra determinadas crises econômicas em diversos locais do planeta.

“Esse retorno, ao discurso, que antes se brincava, é o discurso do tio do churrasco, hoje é o discurso de 20% da Alemanha, de muito mais por cento no Brasil. Esse discurso surgiu por uma revolta contra determinados momentos, que crises econômicas achataram o modo de vida de uma parte da população”, ressaltou.

Ele argumenta que a democracia não conseguiu solucionar a concentração de renda, o que ajudou a trazer força aos discursos extremistas.

“Maioria dos seres humanos precisa culpar alguém pelos seus problemas, começou o discurso de que: ah, eu só estou nessa situação econômica porque tem muito estrangeiro, é o discurso europeu, o fascismo, a extrema direita recuperando o terreno eleitoral”, pontuou.

E, a partir daí, determinados grupos políticos e ideológicos “conseguiram captar esse sentimento”.

“Isso é importante de ter em mente, não foram as big techs, as redes sociais que geraram esse sentimento, não, souberam captar e a partir dessa captação, conseguiram transformar um instrumento de defesa da democracia, da liberdade de reunião, da liberdade de expressão, conseguiram transformar num mecanismo de doutrinação em massa porque já tinham a expertise para isso, no ponto de vista ou no campo econômico. Simplesmente ampliaram o foco porque já tinham feito estudos de direcionamento de algoritmos pro campo econômico”, completou Moraes.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Não posso nem sair do X que me deduram, diz Moraes no site CNN Brasil.

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