Bolsas asiáticas abrem em alta após ameaça de Trump de subir tarifas contra a China


O republicano ameaçou aplicar uma taxa adicional de 50% se o país não voltar atrás na imposição de taxas de 34%, anunciadas na semana passada em retaliação ao ‘tarifaço’. Tela mostra o fechamento do índice Hang Seng, em Hong Kong.
Reuters
As principais bolsas de valores asiáticas abriram em alta nesta terça-feira (8), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, subir o tom na guerra comercial contra a China.
O republicano afirmou que o gigante asiático tem até as 12h desta terça – 13h, no horário de Brasília – para recuar da decisão de impor tarifas de 34% sobre produtos dos EUA em resposta ao “tarifaço”. Do contrário, Trump prometeu aplicar taxas adicionais de 50% contra o país.
“Se a China não retirar seu aumento de 34% acima de seus abusos comerciais de longo prazo até amanhã, 8 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão tarifas adicionais à China de 50%, com efeito em 9 de abril”, publicou Trump em sua rede social.
📉 Veja o desempenho das principais bolsas asiáticas por volta das 23h30:
🇭🇰 Hang Seng, de Hong Kong, subia 2,3%
🇨🇳 CSI 1000, da China, subia 0,10%
🇯🇵 Nikkei 225, do Japão, subia 6,35%
🇬🇸 Kospi, da Coreia do Sul, subia 1,69%
Apesar da pressão de Trump, os chineses não deram sinais de recuo, e prometeram na noite desta segunda-feira adotar “contramedidas” caso os EUA sigam em frente com a tarifa adicional.
Na semana passada, Pequim já havia reagido com força às novas tarifas comerciais impostas pelo republicano, inclusive com alerta de que está pronta para lutar em “qualquer tipo” de guerra.
Na visão de analistas, a China pode até se beneficiar do momento caso o país consiga se aproveitar da lacuna comercial deixada por Washington. (leia mais abaixo)
Enquanto isso, na tarde desta segunda-feira, Trump também se mostrou resistente. Em entrevista a jornalistas ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o líder norte-americano afirmou que não pretende suspender o conjunto de tarifas que atingiu mais de 180 países e regiões.
“Não estamos olhando para isso”, disse, após ser questionado se iria fazer uma pausa nas taxas aplicadas. Trump afirmou, por outro lado, que ainda conversaria com a China, o Japão e outras nações sobre as tarifas.
“Temos muitos, muitos países que estão vindo para negociar acordos conosco, e serão acordos justos. Em certos casos, eles pagarão tarifas substanciais. Haverá acordos justos”, acrescentou.
Trump sobre pausa em tarifas: ‘Não pensamos nisso’
Negociações com União Europeia e Japão
Outras nações e regiões seguem estudando estratégias de negociação com Trump. A Comissão Europeia, por exemplo, ofereceu um acordo tarifário “zero por zero” para evitar uma guerra comercial.
Os ministros da União Europeia (UE) concordaram em priorizar as negociações, ao mesmo tempo em que contra-atacaram com tarifas de 25% sobre algumas importações dos EUA. O bloco optou, até o momento, por não adotar taxas mais amplas.
Além disso, removeu da lista de produtos norte-americanos tarifados o bourbon (whisky americano), vinho e laticínios após Trump ameaçar aplicar taxas de 200% sobre as bebidas alcoólicas da UE.
A gestão de Donald Trump também mantém conversas com o Japão. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse nesta segunda que espera ter negociações produtivas com o país e que possam resultar em redução de tarifas.
“Para países que não retaliam, estamos em um nível tarifário máximo. E espero que, por meio de boas negociações, observemos os níveis diminuírem”, disse Bessent à Fox Business Network.
O secretário acrescentou que o movimento irá depender dos outros países. “Se o presidente Trump vai se envolver pessoalmente nessas negociações — e ele acredita, como muitos de nós, que houve um campo de jogo injusto —, então a negociação vai ser difícil”, acrescentou.
Cenário de oportunidades para a China
Analistas observam que, caso consiga se aproveitar da lacuna deixada pelos EUA, a China poderá até se beneficiar do cenário.
Para o diretor-executivo do Brasil no FMI, André Roncaglia, as medidas recentes de Trump abrem uma grande oportunidade para a China avançar no comércio exterior e consolidar seu poder comercial, econômico e financeiro na Ásia.
“Alguns países podem sofrer tremendamente até que consigam entrar no processo de negociação. (…) É como se você estivesse na entrada de um shopping e, agora, os EUA colocaram uma catraca. Então você tem que pagar para entrar para poder se beneficiar daquele comércio”, defende.
Segundo Roncaglia, é possível que existam agora duas regiões polares que convidem o resto do mundo a negociar com elas, e algumas áreas devem receber mais atenção de Pequim.
“Onde acho que a China tem muito poder de avançar é na área tecnológica. A direção que aponta a gestão Trump é de uma deterioração nas condições da produção de conhecimento científico no país”, afirma.
Roncaglia, no entanto, vê limites para o alcance da China. “Acho mais difícil que ela avance aqui no hemisfério Ocidental, porque o desenho que a administração Trump vem fazendo cria um polo com forte poder de atração, para que os países da região orbitem em torno dele”, afirmou.
A revista britânica “The Economist” também traz uma perspectiva positiva para a China. A capa da publicação desta semana traz o famoso boné MAGA, marca da política de Trump, com a inscrição “Make China great again” (“Faça a China grande de novo”, em tradução para o português).
No editorial, a revista descreve como os americanos “poderiam acabar fazendo a China grande de novo” e chama o momento de “uma bela grande oportunidade”.
“O MAGA está pressionando os líderes da China para corrigir seus piores erros econômicos. Também está criando oportunidades para redesenhar o mapa geopolítico da Ásia em favor da China”, diz a publicação.
O texto lembra que as exportações ainda representam cerca de 20% do PIB da China, como em 2017, o que prejudicará a economia do país — situação agravada pela tática de Pequim de redirecionar as cadeias de fabricação de empresas para países como o Vietnã, fortemente taxado por Trump.
Capa da revista “The Economist”
Reprodução
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