O Congresso Mundial Uigur (WUC, na sigla em inglês) anunciou a demissão de seu porta-voz de língua chinesa após a prisão dele na Suécia, suspeito de atuar como espião a serviço do governo chinês. Segundo a organização, Dilshat Reshit ocupava o cargo desde 2004 e foi afastado em uma reunião de emergência. “Em linha com nosso compromisso com a integridade, a transparência e a segurança da nossa comunidade”, justificou o grupo em nota oficial, conforme relato da rede Radio Free Asia (RFA).
Reshit foi detido em Estocolmo, segundo informou a promotoria sueca. O nome não foi divulgado pelas autoridades locais, mas o WUC afirmou que documentos judiciais confirmam se tratar do seu ex-porta-voz. As acusações envolvem a coleta ilegal de informações sobre membros da comunidade uigur na Suécia, possivelmente repassadas aos serviços de inteligência da China.
A prisão reacendeu os alertas sobre a atuação de redes de espionagem chinesas em comunidades uigures no exterior, frequentemente usadas como alvos de repressão e vigilância. A organização, sediada fora da China, representa internacionalmente os uigures, minoria muçulmana severamente perseguida pelo regime chinês.

“Há muito alertamos sobre o alcance internacional das redes de espionagem da China”, reforçou o grupo no comunicado.
O promotor sueco Mats Ljungqvist declarou que o detido é suspeito de “ter coletado ilegalmente informações e inteligência sobre pessoas no meio uigur em nome do serviço de inteligência chinês”, conforme divulgado inicialmente pela agência Reuters. Já a embaixada da China em Estocolmo, ao ser questionada, afirmou por e-mail que não tinha conhecimento do caso e preferiu não comentar.
A nota do WUC lamenta a falta de recursos institucionais e financeiros para combater a “sofisticação da repressão transnacional” promovida por Beijing e pediu maior cooperação internacional em ações de contraespionagem. Segundo o grupo, os esforços da China para silenciar dissidentes no exterior “não apenas colocam em risco a segurança e coesão das comunidades uigures na diáspora, mas também representam uma ameaça direta à soberania, à segurança pública e à segurança nacional dos países anfitriões”.
Por que isso importa?
Os uigures são uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos. Eles vivem sobretudo na província de Xinjiang, que faz fronteira com países da Ásia Central e com eles divide raízes linguísticas e étnicas.
Os de 11 milhões de uigures enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.
O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.
A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.
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