Especialista explica esclerose múltipla, doença diagnosticada por Carol Ribeiro

Carol Ribeiro, 45 anos, surpreendeu ao revelar, na semana passada, ter sido diagnosticada com esclerose múltipla e que convive com a doença há algum tempo. A apresentadora e modelo contou que os incômodos começaram em 2023, mas ela acreditava se tratar de menopausa. A descoberta aconteceu após realizar uma bateria de exames.

Em entrevista para o “Fantástico” (TV Globo), exibida neste domingo, 13, ela contou ter passado meses com sintomas confusos e persistentes. No início, ela tentou ignorar as falhas ao caminhar, a confusão mental ao falar, os calores repentinos e o cansaço extremo que chegou a deixá-la 17 dias sem dormir. “Era o corpo avisando, mas eu empurrava”, disse ela.

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Mas, o que é esclerose múltipla, quais são os sintomas e como se dá o tratamento? Para responder a essas e outras perguntas. IstoÉ Gente conversou com o médico neurologista *Dr. Diogo Haddad, especialista em neuroimunologista e com dez anos de experiência em trabalho com esclerose múltipla.

O nome e falta de conhecimento do que é a doença pode causar pavor, mas o especialista esclarece que o diagnóstico não é uma “sentença” e que é possível levar uma vida normal, se o tratamento for seguido corretamente.

IstoÉ Gente: O que é esclerose múltipla? Como se caracteriza essa doença? 

Esclerose múltipla é uma doença autoimune, inflamatória, crônica, desmiielinizante do sistema nervoso central. O que é isso? Basicamente, é como você ter uma doença autoimune no seu próprio corpo que te ataca, mas ele ataca a bainha de mielina, que é o que une entre neurônio e outro. E é tipicamente você pode ter esses ataques inflamando essa região de tempos em tempos, que podem gerar sintomas diferentes.

IstoÉ Gente: É possível apontar causas e, então, evitar ser vítima dessa doença?

Não, não tem, não existe uma prevenção de uma doença que é multifatorial. O grupo mais suscetível epidemiologicamente é composto de mulheres jovens. Então, mulheres jovens têm mais risco de ter esclerose múltipla do que outros pacientes. Em média 3 para 1, em cada 4 pacientes, 3 são mulheres 1 é homem. E ele é comum mais em mulheres jovens, dos 20 aos 40 anos. Não que não possa acontecer. A gente acompanha muitos pacientes, homens mais velhos, mas isso não é o normal. 

IstoÉ Gente: Quais são os principais sintomas que devem servir de alerta para o indivíduo buscar atendimento médico?

O sintoma, ele é associado em grande parte ao local onde se tem essa inflamação, onde se tem esse ataque no cérebro, tanto que nós chamamos o sintoma agudo de surto. Nós temos alterações de mielina em cada uma das áreas [do corpo]. Nós temos, por exemplo, alteração da mielina do olho, e aí ocorre uma neurite óptica, que pode causar embaçamento visual. Pode ocorrer em áreas motoras e causar uma fraqueza, pode ocorrer em áreas sensitivas e provocar alteração de sensibilidade. Cada um desses sintomas pode acontecer.

IstoÉ Gente: A presença de sintomas significa “uma sentença”? Há meios de reverter, barrar a evolução da doença ou, pelo menos, desacelerar? Ou existem apenas tratamentos paliativos que são aplicados para proporcionar uma melhora na qualidade de vida?

Não, não, a doença não é uma sentença, a doença hoje é extremamente incontrolável. Nós temos, sim, que fazer isso de forma precoce, quanto mais precoce eu faço o diagnóstico, mais cedo iniciam tratamento. Os tratamentos hoje nós chamamos de alta eficácia. Eles controlam a doença cada vez numa porcentagem maior de eficácia em 3 pontos: evitar a progressão de doença, ou seja, sintomas que vão piorando lentamente; para evitar piora de imagem, porque hoje eu consigo acompanhar pacientes através de neuroimagem, principalmente através de ressonância; e para evitar que ele tenha surtos. Quando o paciente lá atrás ele tinha surtos frequentes, ele acabava tendo sequelas desses surtos e, por isso, que ele tinha os sintomas constantes. 

Por isso hoje o que a gente vai buscar é que esse paciente não tenha. Agora, em estando num surto, eu consigo desinflamar aquela região, muitas vezes com tratamentos específicos como corticoides, e consigo fazer com que aquele paciente retorne mais rápido. 

IstoÉ Gente: Uma vez diagnosticada a doença, como se dá o tratamento de imediato e ao longo da vida?

Tratando de forma adequada, a tendência é que isso, que esse paciente tenha uma vida normal. Não tem nada de paliativo, de paciente que vai ficar mal. Hoje os pacientes que acompanham, e tem vários aqui no nosso grupo que têm um monte de coisa para falar a respeito. São médicas, enfermeiras, advogadas, engenheiros, jornalistas, que têm a doença e ninguém nem sabe que ela tem doença porque ela vai ter uma vida normal, vai poder engravidar, viajar. Hoje o paciente consegue ter uma vida o mais normal possível. 

E o tratamento, sim, deve ser imediato, e deve permanecer. Os tratamentos são contínuos ao longo da vida. 

IstoÉ Gente: É possível dizer que existe uma expectativa de vida após o diagnóstico?

Não existe. Hoje, a expectativa de vida do paciente de esclerose múltipla é exatamente a mesma expectativa de vida de paciente sem a doença. Não existe uma estimativa exata do Brasil, mas hoje os pacientes estão fazendo muito mais diagnósticos talvez por acesso, então apesar de a gente não ter uma estimativa específica, né. Ela é uma doença que se tem número grande, normalmente de 30 a 40 pacientes a cada cem mil habitantes. E isso é uma estimativa bem ainda superficial, talvez seja muito mais que isso a depender do diagnóstico correto. 

IstoÉ Gente: O tratamento adequado é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde)? Como ele se dá?

O tratamento adequado hoje, ele é oferecido pelo SUS. Hoje no SUS, nós temos, se eu não me engano, 11 tratamentos aprovados. No privado, nós temos mais remédios ainda. Esses remédios hoje eu consigo individualizar o tratamento, eu consigo escolher o que eu quero tratar pro paciente correto, e isso muda completamente de figura, a forma como o paciente enxerga a doença. Então, é algo extremamente importante, porque eu consigo tratar o paciente certo, na hora certa, com o remédio certo, isso muda muito, sabe? 

Principalmente, o que nós precisamos de segmento é muita ressonância magnética, que talvez ainda seja uma certa dificuldade, mas que é cada vez mais prevalente, porque a ressonância como imagem ela consegue identificar as lesões no cérebro desmielinizante, ou seja, da perda de mielina, que é típico da doença autoimune inflamatória que é típico da esclerose múltipla.

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