VATICANO, 24 ABR (ANSA) – O cardeal filipino Luis Antonio Gokim Tagle, 67 anos, é um dos mais cotados nas bolsas de apostas para suceder o papa Francisco, o que daria à Igreja Católica o primeiro pontífice do Sudeste Asiático em seus 2 mil anos de história.
Conhecido pelo estilo carismático e pelo bom humor, que renderam a ele o apelido de “Francisco da Ásia”, Tagle é arcebispo emérito de Manila e, assim como Jorge Bergoglio, se notabilizou pela defesa apaixonada dos marginalizados, como pobres e imigrantes, bem como das mulheres, dos trabalhadores e do meio ambiente.
“Quantos operários têm negado um salário justo pelo deus chamado lucro? Quantas mulheres têm sido dominadas para o deus chamado dominação? Quantas crianças têm sido sacrificadas para o deus chamado luxúria? Quantas árvores e rios estão sendo sacrificados para o deus chamado progresso? E quantos pobres estão sendo sacrificados para o deus da ganância?”, disse certa vez em um discurso.
Mais do que continuidade, uma eventual vitória de “Chito” (apelido do cardeal filipino) poderia significar um aprofundamento das reformas liberais iniciadas por Francisco, além de uma atenção inédita da Igreja ao continente que abriga mais da metade da população do planeta.
Lar de quase 5 bilhões de pessoas, a Ásia é palco de algumas das principais tensões religiosas do mundo, do Oriente Médio ao Sudeste Asiático, onde as Filipinas representam o mais importante bastião católico na região, com cerca de 85 milhões de fiéis, quase 80% da população nacional.
Homem da Cúria Romana, Tagle é o atual pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, braço missionário da Igreja e considerado por muitos como o departamento mais importante da Santa Sé, sobretudo em um cenário de expansão das confissões evangélicas, do Islã e do ateísmo.
O cardeal tem orientação progressista e já criticou as “palavras duras” usadas pelo clero contra homossexuais, divorciados e mãe solteiras, defendendo uma “abordagem pastoral de aconselhamento” e o “sacramento da reconciliação”. Ao mesmo tempo, condena o aborto e a eutanásia, postura em linha com a de Francisco.
Em 2017, Tagle também participou de protestos contra os planos de restabelecer a pena de morte nas Filipinas e a violência indiscriminada das políticas draconianas de combate às drogas do então presidente Rodrigo Duterte (2016-2022). Já em 2021, durante a pandemia de Covid-19, denunciou a falta de solidariedade global dos países, “mais preocupados em proteger os próprios cidadãos, com o risco de um aumento do egoísmo e do medo dos estrangeiros”.
Segundo um estudo feito pela empresa de análise de dados Arcadia, Tagle é também o candidato mais popular nas redes sociais, com 149 mil menções no X entre 21 e 23 de abril (o segundo colocado, o ganês Peter Turkson, também postulante ao papado, tem “apenas” 77 mil).
Nascido em 21 de junho de 1957, na cidade de Imus, ele é o filho mais velho de Manuel Topacio Tagle, membro da etnia tagalog com ascendência espanhola, e da sino-filipina Milagros Gokim. Após completar a escola, Tagle entrou para o seminário de San José e depois estudou teologia na Universidade Ateneu de Manila, ambos jesuítas.
Sua ordenação como padre ocorreu em fevereiro de 1982, na diocese de Imus, onde atuou em várias posições até a segunda metade dos anos 1990. Em 1997, foi nomeado por São João Paulo II para integrar a Comissão Teológica Internacional, então chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger, o futuro papa Bento XVI.
No fim de 2001, foi empossado como bispo de Imus, diocese que ele comandou durante uma década e onde ganhou notoriedade pelo modo de vida simples e próximo aos mais pobres. Bento XVI nomeou Tagle como arcebispo de Manila em outubro de 2011 e, no ano seguinte, o filipino se tornou cardeal.
O prelado comandou a principal arquidiocese das Filipinas até 2020 e foi presidente da Caritas Internationalis, entidade beneficente da Igreja Católica com atuação no mundo todo e que esteve no centro de um escândalo de assédio moral de superiores contra funcionários.
O cardeal não se envolvia diretamente nas operações diárias da Caritas, porém o caso é apontado como um fator que pode prejudicá-lo no conclave. (ANSA).