Sérgio Porto tinha um olhar peculiar sobre futebol e dos poderosos no país

O cronista Sérgio Porto (1923-1968), que tinha Stanislaw Ponte Preta como pseudônimo, é autor de um livro precioso para conhecer bastidores da Copa de 1962. Em “Bola na rede: a batalha do bi”, ele descreve as partidas com um jeito peculiar e chama a bola de “leonor”. 

Começa o pega. (…) O Brasil está nervoso. Tá parecendo o misto do Campo Grande em dia de treino. (…) Só no segundo tempo Pelé se lembrou que era Pelé: apanhou a leonor no meio do campo, puxou todos os mexicanos para a direita (vieram todos, de Juarez ao Trio Los Panchos) e deu um passe a Zagallo lá na esquerda, que só teve o trabalho de testar para o véu da noiva.”
(Brasil 2×0 México)

Os tchecos não chegaram à final por acaso, eles dominam a leonor com a mesma facilidade com que o Cartola da Mangueira domina o telecoteco. (…) E lá vai Manuel, o Venturoso. Tem quatro cercando ele, mas é pouco. (…) E é gol, Amarildo, nem bem eu tinha acabado de escrever a frase acima e Amarildo… ah, menino bom! (…) Zito de vez em quando diz pro Didi güenta aí que vou ali mas já volto e seu Mané dá o primeiro grito de carnaval da tarde. (…) O sol atrapalhou e o lotação Vavá-Largo da Abolição botou a juriti pra cantar. (…) Os chilenos vinham vaiando o maior craque deste campeonato do mundo, mas agora seu Mané ficou com a bola no pé uns 30 segundos. Palmas do estádio inteiro. E acabou. O Brasil é bicampeão mundial de futebol!
(Brasil 3×1 Tchecoslováquia)

Fora do futebol, Sérgio Porto é autor de Febeapá (Festival de besteiras que assolam o país), um clássico nacional. O primeiro volume foi publicado originalmente em 1966 e traz um olhar debochado do cronista sobre os poderosos no Brasil. Um livro, em volume único, reúne todos os textos dele. Vale a pena conferir. 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.