
Morte do jornalista fluminense, aos 70 anos, traz à tona a saga da primeira emissora FM a tocar bandas como Legião Urbana e Paralamas do Sucesso. Luiz Antonio Mello (1955 – 2025) foi o fundador da Fluminense FM, a emissora ‘maldita’
Tetê Mattos / Divulgação
♫ OBITUÁRIO
♪ Seria exagerado creditar a ascensão mercadológica do rock brasileiro nos anos 1980 somente ao idealismo visionário do radialista e jornalista fluminense Luiz Antonio Mello (18 de fevereiro de 1955 – 30 de abril de 2025).
Da mesma forma, seria injusto minimizar a relevante contribuição de LAM – como também era conhecido esse bendito niteroiense que morreu hoje, aos 70 anos, em decorrência de parada respiratória sofrida quando ia fazer ressonância magnética para tratar pancreatite – para o impulso do rock nativo a partir de 1982.
Por isso, a notícia de que Luiz Antonio Mello saiu do ar para sempre enlutou o universo pop brasileiro. É que Mello foi o cara que, como resumiu Frejat em homenagem publicada na rede social do artista, “abalou as estruturas” de um sistema que envolvia gravadoras e emissoras de rádio.
Foi através das ondas da Fluminense FM – a emissora conhecida como A maldita que entrou no ar em 1º de março de 1982 sob o comando de Mello – que as cartas do jogo mercadológico foram embaralhadas e que a geração 80 ganhou visibilidade imediata, se conectando com um público jovem que já não se identificava com a MPB.
De 1982 a 1984, bandas desconhecidas como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Kid Abelha e Biquini Cavadão entraram na programação da Fluminense FM – emissora que veiculava demos de grupos iniciantes – e de lá saltaram para o elenco de gravadoras multinacionais como EMI e WEA, fazendo antes escala no Circo Voador, palco carioca que também ajudou a amplificar o rock que pedia passagem naqueles tempos modernos.
Idealista, Luiz Antonio Mello pôs no ar uma cena roqueira independente que pulsava nas garagens e nos porões. A estrutura da emissora era precária, mas a paixão era imensa.
Essa historia heroica foi contada pelo próprio Luiz Antonio Mello no livro A onda maldita, editado em 1982. A narrativa do livro inspirou Tetê Mattos a dirigir o documentário A maldita, lançado em 2019. Entre o livro de Mello e o filme de Tetê, houve um segundo livro, Rádio Fluminense FM – A porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80 (2005), escrito pela jornalista e baterista Maria Estrella.
Mais recentemente, no ano passado, a história da Fluminense FM rendeu o filme Aumenta que isso aí é rock’n’roll (2024), com o ator Johnny Massaro interpretando Luiz Antonio Mello, relevante radialista e jornalista musical que, ao morrer, deixa no ar um capítulo crucial na história do rock brasileiro.