Cardeais progressistas americanos podem surpreender em conclave

VATICANO, 5 MAI (ANSA) – Formada por Joseph William Tobin, 73, arcebispo de Newark, nomeado cardeal pelo papa Francisco em 2016, Blase Cupich, de Chicago, e Robert McElroy, de San Diego, a tríade de cardeais progressistas norte-americanos pode surpreender no conclave que definirá o próximo líder da Igreja Católica, a partir do próximo dia 7 de maio.   

De família irlandesa, nascido em Detroit, Tobin desde muito jovem frequentou a Congregação do Santíssimo Redentor, fundada no século 18, na região de Salerno, por Santo Afonso Maria de Ligório, para levar o Evangelho aos mais pobres.   

Durante 10 anos foi superior geral dos Redentoristas e vice-presidente da União dos Superiores Gerais. Nesta última função, ele viajou para mais de 70 países para conhecer as comunidades religiosas locais.   

Em 2010, o papa Bento 16 o nomeou bispo e secretário do Dicastério para a Vida Consagrada. Assim que foi promovido, ele imediatamente criticou uma inspeção feita pela Congregação para a Doutrina da Fé na organização de religiosas americanas, a LCWR, julgando-a altamente ideológica e punitiva.   

Tobin é um grande apoiador da causa LGBTQIA+. Em 2017, ele recebeu uma peregrinação de gays, lésbicas e suas famílias na Catedral de Newark. Na ocasião, assinou uma declaração em favor desses jovens e pediu que a homossexualidade não fosse mais definida no Catecismo como um comportamento “intrinsecamente desordenado”.   

O religioso é um defensor da declaração de Francisco “Fiducia supplicans”, que permite a bênção de casais gays. Além disso, o arcebispo de Newark disse que “não há nenhuma razão teológica convincente pela qual o Papa não possa nomear uma mulher cardeal”.   

Ele também argumentou que as mulheres deveriam poder pregar na missa e ter voz ativa nos processos de tomada de decisões. Tobin já condenou o aborto e a pena de morte e é muito sensível a questões de imigração e justiça social.   

O norte-americano se manifestou repetidamente a favor da proteção dos migrantes e é considerado um progressista, mas dialogante e pragmático.   

Em 2014, ele inclusive chegou a alertar contra a polarização ideológica da vida política norte americana. Isso, na visão dele, “ajuda a contribuir para a balcanização dos católicos americanos nas chamadas alas direita e esquerda, ou facções progressistas e tradicionalistas, que apontam o dedo umas para as outras”.   

Para Tobin, “aqueles que apontam o dedo causam grande dano à vida religiosa, porque nos colocam na defensiva”, de modo que “nos sentimos constantemente forçados a nos defender de outras partes da Igreja”.   

Cupich – O arcebispo de Chicago, por sua vez, é considerado um prelado ultraprogressista. Natural de Omaha, Nebraska, formou-se em Filosofia nos EUA e estudou teologia em Roma, na Gregoriana.   

Em 1998, ele se tornou bispo em Rapid City, Dakota do Sul. Mas a primeira tarefa realmente importante ocorreu em 2010. Ele foi enviado para liderar a diocese de Spokane, no leste do estado de Washington, que foi abalada pelo escândalo de abuso sexual cometido por padres.   

Na época, conseguiu salvar escolas católicas do fechamento e relançá-las. Seu trabalho foi tão eficaz que ele foi nomeado pela Conferência Americana de Bispos Católicos para chefiar a Comissão para a Proteção de Menores.   

Em 2014, foi nomeado arcebispo metropolitano de Chicago e, dois anos depois, tornou-se cardeal. Ao longo dos anos, ele se destacou por suas posições muito progressistas. Apesar de proibir seus padres de rezarem em clínicas de aborto, ele pede respeito aos gays e lésbicas e também apoia o documento de Francisco sobre a bênção de casais homoafetivos.   

Cupich diz que está aberto a discutir sobre diaconisas e acredita que a Igreja precisa abordar a questão do aquecimento global. Ele é um defensor da sinodalidade, a abordagem de Jorge Bergoglio para uma Igreja mais aberta às contribuições dos fiéis.   

Em 2021, após a publicação de “Traditionis Custodes”, o cardeal foi um dos primeiros bispos a impor restrições à missa tradicional. No ano passado, ele esteve duas vezes no centro de polêmicas levantadas por católicos tradicionalistas, muito fortes nos Estados Unidos.   

O arcebispo de Chicago foi criticado por pedir aos fiéis que recebessem a comunhão em pé, em vez de ajoelhados. Depois, por fazer uma oração na convenção democrata, apesar do forte apoio do partido ao aborto.   

O arcebispo excomungado Carlo Viganò, ex-núncio nos Estados Unidos, acusou-o em 2018 de ter sido nomeado para Chicago por iniciativa do cardeal Theodor McCarrick, que mais tarde foi destituído por abuso sexual. Na ocasião, Cupich respondeu que as acusações de Viganò eram “ideológicas”.   

McElroy – Considerado um defensor ferrenho dos migrantes e crítico do primeiro governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, McElroy foi nomeado por Francisco como arcebispo de Washington.   

O religioso, de 70 anos, é um forte apoiador de temas prioritários para o Pontífice, como refugiados, meio ambiente e acolhimento de católicos LGBTQIA+.   

Durante o início do primeiro mandato de Trump, o então bispo McElroy expressou posições críticas em relação à postura do republicano e pediu aos católicos para “barrarem” aqueles que buscam “enviar tropas para as ruas para deportar” imigrantes, para arrancar mães e pais de suas famílias e que retratam os refugiados como inimigos.   

Além disso, em 2016, McElroy também lamentou “uma profunda doença na alma da vida política americana” depois da vitória do magnata.   

Nascido em 5 de fevereiro de 1954, em São Francisco, Califórnia, o cardeal frequentou o Seminário Menor Saint Joseph, obteve o bacharelado na Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, e o mestrado em História na Universidade de Stanford, em Palo Alto, Califórnia. Depois de concluir seus estudos eclesiásticos no Saint Patrick Seminary, em Menlo Park, obteve o doutorado em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma e o doutorado em Ciências Políticas pela Universidade de Stanford.   

Foi ordenado sacerdote em 12 de abril de 1980 para a Arquidiocese de São Francisco. Nomeado bispo auxiliar de São Francisco em 6 de julho de 2010, recebeu a consagração episcopal em 7 de setembro seguinte. À frente da Diocese de San Diego, o Papa Francisco o criou cardeal no Consistório de 27 de agosto de 2022. (ANSA).   

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