PERFIL/Leão XIV, o ‘bergogliano’ moderado para unir a Igreja

VATICANO, 8 MAI (ANSA) – Nascido em Chicago e missionário no Peru, apaixonado por tênis e amante da leitura. O novo papa, Robert Francis Prevost, ou Leão XIV, representa a síntese entre o norte e o sul do continente: atenção aos marginalizados e nenhum receio de criticar o poder, como fez há três meses ao confrontar o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, sobre políticas anti-imigração.   

“J.D. Vance erra: Jesus não nos pediu para rankear nosso amor pelos outros”, escreveu o então cardeal no X em fevereiro passado, em relação às políticas anti-imigrantes do governo Trump.   

Considerado um “bergogliano moderado”, Leão XIV pode ser o novo elo de uma Igreja em busca de unidade, que deseja construir pontes para a paz, promover o diálogo e acolher a todos.   

Continuidade, mas sem as rupturas que Francisco apresentou desde seu primeiro dia no Vaticano.   

Antes do conclave, Prevost era visto pelos EUA como “o cardeal que pode fazer história”. Hoje, ele confirmou o prognóstico ao aparecer na sacada do Palácio Apostólico com os olhos marejados e a consciência de um grande peso sobre os ombros: ser o 267º papa da história.   

Ele completará 70 anos no próximo 14 de setembro, e sua biografia é um cruzamento de culturas: nascido em Chicago, filho de pai com origens italianas e francesas e mãe de ascendência espanhola. “Meus avós eram todos imigrantes, cresci em uma família muito católica”, contou Prevost certa vez.   

Grande parte de sua vida, porém, foi vivida longe dos EUA, seguindo a missão da Ordem de Santo Agostinho. Aos 22 anos, entrou no noviciado em Saint Louis. Em 1981, fez os votos solenes. Formou-se em teologia na União Teológica Católica de Chicago e, aos 27 anos, foi enviado a Roma para estudar direito canônico na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino.   

Foi ordenado sacerdote em 19 de junho de 1982 e obteve a licenciatura em 1984, sendo enviado como missionário a Chulucanas, no Peru, país que decidiu homenagear com uma breve mensagem em espanhol, um tributo à sua trajetória. Retornou definitivamente a Chicago apenas em 1999, antes de ser enviado novamente ao Peru pelo papa Francisco, em 2014, como administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, onde ficaria até 2023. Simultaneamente, foi nomeado bispo titular da Diocese de Sufar.   

Desde 30 de janeiro de 2023, era prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. “Sempre me senti missionário”, costuma dizer Prevost em suas entrevistas. A última foi concedida após a morte de Francisco. “Sempre tive a impressão de que ele era um homem que queria viver autenticamente, com coerência, o Evangelho”, afirmou emocionado, lembrando seu encontro com o antecessor na Argentina.   

Quem o conhece fala de um bom backhand para um tenista amador. “Me considero um jogador mediano”, minimizou o americano em conversas com jornalistas. Quando nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos, brincou que mal tinha tempo para jogar tênis.   

A partir de hoje, esse tempo será ainda mais escasso, e talvez Leão XIV opte por hobbies menos exigentes, como a leitura ou caminhadas ao ar livre com amigos. “Ter a capacidade de cultivar amizades verdadeiras na vida é algo maravilhoso. E acho que esse é um dos dons mais belos que Deus nos deu”, disse certa vez. (ANSA).   

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