Investigação e prisões ligadas a seita russa levam Argentina a reforçar vigilância sobre imigrantes

A Argentina se vê no centro de um escândalo internacional desde que a polícia prendeu Konstantin Rudnev, líder da seita russa Ashram Shambala, acusado de tráfico de pessoas, uso de trabalho forçado e distribuição de entorpecentes. A repercussão do caso, que teve início em Bariloche, se espalhou rapidamente pelo país e afeta até russos que não têm nenhuma ligação com o grupo, com cidadãos inocentes detidos, vigiados e discriminados, e a comunidade russa sob crescente desconfiança. As informações são do site The Insider.

Tudo começou em março, quando uma jovem russa grávida foi levada ao hospital por duas mulheres que falavam por ela e tentaram registrar o bebê com o sobrenome “Rudnev”, mesmo sem a presença do pai.

O episódio levantou suspeitas sobre uma tentativa do líder da seita de obter residência permanente por meio da paternidade, já que filhos nascidos na Argentina têm direito à cidadania, e os pais podem pedir residência e, futuramente, naturalização. Poucos dias depois, Rudnev foi detido no aeroporto de Bariloche com seis mulheres, drogas e passagens para o Brasil.

Aeroporto internacional de Ezeiza, na Argentina (Foto: Paulo JC Nogueira/WikiCommons)

A operação revelou uma rede internacional comandada por Rudnev, que já havia cumprido 11 anos de prisão na Rússia por estupro, tráfico de drogas e por liderar uma seita que violava os direitos individuais de seus membros. Em solo argentino, 21 russos foram indiciados por crimes graves. Apesar disso, apenas Rudnev segue preso — os demais tiveram os passaportes apreendidos e estão proibidos de sair do país, devendo comparecer semanalmente à polícia.

A investigação ganhou contornos mais dramáticos quando russos sem qualquer envolvimento com a seita passaram a ser detidos de forma arbitrária. O casal Anwar e Yulia, por exemplo, foi preso ao desembarcar em Buenos Aires após um voo vindo de Bariloche.

“Tiramos os passaportes vermelhos. Os policiais viram e logo perguntaram se éramos russos. Aí nos mandaram sair da fila,” contou Anwar. Eles passaram quase três dias em celas sujas e frias, sem acusação formal, e tiveram seus pertences retidos sob suspeita de tráfico de pessoas. Acabaram liberados mais tarde, após conseguirem provar que não tinham envolvimento com a seita.

O clima de hostilidade se espalhou. Festas da comunidade russa foram canceladas, empresas tiveram seus estabelecimentos invadidos pela polícia e crescem os relatos de que cidadãos russos estão sendo impedidos de alugar imóveis ou carros. Um clube de educação infantil em Buenos Aires foi alvo de uma batida policial no fim de abril, aumentando o temor de que a repressão a um grupo específico se transforme em perseguição coletiva.

Enquanto isso, Rudnev segue detido em presídio de segurança máxima em Rawson, no sul da Argentina. Ele tentou o suicídio no momento da prisão e aguarda julgamento por acusações que podem somar mais de 20 anos de prisão. Seus advogados sustentam que não há provas suficientes para justificar a permanência dos outros 20 investigados sob vigilância.

“No início, havia muitas versões diferentes sobre as acusações. O que sei com certeza é que as mulheres estavam com Rudnev voluntariamente”, declarou o advogado Leopoldo Murua, que posteriormente deixou o caso e foi substituído por outro defensor.

O post Investigação e prisões ligadas a seita russa levam Argentina a reforçar vigilância sobre imigrantes apareceu primeiro em A Referência.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.