A Rússia e a Coreia do Norte intensificaram nas últimas semanas a divulgação de vídeos e reportagens que destacam a atuação de soldados norte-coreanos na guerra da Ucrânia. O material é veiculado por canais estatais dos dois países e integra uma campanha de propaganda voltada a exaltar a aliança militar e política entre Moscou e Pyongyang, conforme relato do The Wall Street Journal.
As imagens, exibidas por emissoras como a estatal russa Vesti Nedeli, mostram militares norte-coreanos treinando com armamento russo, marchando em cidades não identificadas e participando de cerimônias conjuntas com soldados russos. Em um dos vídeos, um soldado norte-coreano e um russo fincam bandeiras no solo e se abraçam. Em outro, os norte-coreanos entoam um canto de exaltação ao líder Kim Jong-un.

De acordo com autoridades da Coreia do Sul, cerca de 15 mil soldados norte-coreanos foram enviados à Rússia desde o ano passado. Desses, aproximadamente 4,7 mil teriam morrido ou ficado feridos, conforme dados da agência de inteligência sul-coreana. Em troca, Pyongyang recebeu equipamentos militares russos, incluindo drones, mísseis e tecnologia espacial.
A presença das tropas foi mantida em sigilo até recentemente. Agora, os dois governos passaram a apresentar os militares norte-coreanos como símbolos da cooperação estratégica entre os países. Durante a parada militar do Dia da Vitória em Moscou, o presidente Vladimir Putin cumprimentou e abraçou generais norte-coreanos identificados como líderes das tropas enviadas à Rússia.
O líder norte-coreano também tem utilizado a campanha de propaganda para fins internos. Em visita à embaixada russa em Pyongyang, ele classificou o envio de tropas como um ato legítimo de soberania e descreveu os soldados que retornaram feridos como “heróis e os mais altos representantes da honra nacional”.
Parceria ampliada
Além da colaboração militar, Rússia e Coreia do Norte vêm ampliando parcerias em áreas como agricultura, saúde e turismo. Segundo a imprensa estatal norte-coreana, cidades e vilarejos na região de Kursk, “libertados” por tropas russas, receberão nomes de soldados norte-coreanos em homenagem à participação no conflito.
A Coreia do Norte enviou também cerca de 15 mil trabalhadores para a Rússia em 2024, segundo parlamentares sul-coreanos com base em informações de inteligência. Um medida voltada a amenizar o grave déficit de mão de obra no país, agravado pelas baixas na guerra e pela migração em massa de cidadãos russos.
Embora os trabalhadores entrem no país com vistos de estudante — artifício usado para burlar sanções internacionais —, a ONU proíbe expressamente a exportação de mão de obra pela Coreia do Norte. Ainda assim, Moscou e Pyongyang desconsideram a restrição.
De acordo com dados oficiais da Rússia, 8.6 mil vistos estudantis foram concedidos a norte-coreanos em 2024. No entanto, o número de estudantes efetivamente matriculados em universidades russas no ano anterior era de apenas 130.
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