Decreto de Trump permite a africâneres que aleguem sofrer “discriminação racial” pedir refúgio nos Estados Unidos. África do Sul diz que acusações são infundadas.O primeiro grupo de sul-africanos brancos a receberem o status de refugiados no âmbito de um programa iniciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, partiu de Joanesburgo para os Estados Unidos neste domingo (11/05).
Um avião fretado, financiado pelos EUA, transportou 49 passageiros e partiu rumo ao Aeroporto Dulles, nos arredores de Washington, de onde irá para o Texas, de acordo com o Ministério dos Transportes da África do Sul.
Os africâneres são uma minoria étnica branca, em grande parte descendente de colonos holandeses, alemães e franceses. Eles representam quase 60% da população branca da África do Sul. Os líderes africâneres governaram a África do Sul durante o brutal regime de segregação racial do apartheid, de repressão violenta aos sul-africanos negros.
A emissora americana NPR noticiou no início da semana que 12 estados concordaram em acolher os africâneres, alguns dos quais têm família nos EUA.
Em março, o Departamento de Estado dos EUA comunicou ter recebido cerca de 8 mil solicitações de reassentamento de sul-africanos brancos. Até mil africâneres poderão ser admitidos nos Estados Unidos este ano, comunicou o governo americano.
Por que Trump ofereceu asilo a sul-africanos brancos?
Trump, juntamente com seu conselheiro Elon Musk, que nasceu na África do Sul, têm se manifestado abertamente sobre o que alegam ser perseguição aos sul-africanos brancos pela maioria negra do país.
Isso apesar de os africâneres continuarem sendo uma das parcelas mais privilegiadas da população da África do Sul desde o fim do apartheid, há 30 anos.
Os sul-africanos brancos representam cerca de 7% da população do país, mas possuem mais de 70% das terras agrícolas privadas na África do Sul e têm cerca de 20 vezes a riqueza dos sul-africanos negros.
Trump assinou um decreto no início de fevereiro que oferece reassentamento a “refugiados africâneres” que enfrentam “discriminação racial patrocinada pelo governo, incluindo confisco de propriedades racialmente discriminatório”.
Esta é uma referência a uma lei sul-africana de expropriação de terras que Trump afirma que levará ao confisco de fazendas de propriedade de brancos.
A nova lei da África do Sul foi pensada para corrigir desigualdades arraigadas no antigo sistema do apartheid.
O que diz a África do Sul?
Os africâneres partiram para os Estados Unidos depois de o vice-ministro sul-africano para as Relações Internacionais e Cooperação, Alvin Botes, ter falado com o secretário de Estado adjunto dos EUA, Christopher Landau, a quem manifestou a preocupação com o início do processo de acolhimento e reinstalação dos africâneres em solo americano.
O governo da África do Sul afirmou que as acusações de discriminação por parte dos EUA são infundadas, mas que não impedirá que seus cidadãos deixem o país, se assim o desejarem, no exercício do direito de ir e vir.
“É profundamente lamentável que o possível deslocamento de sul-africanos para os Estados Unidos, sob a premissa de serem ‘refugiados’, pareça ter motivações políticas e procure desafiar a democracia constitucional da África do Sul”, declarou o ministério sul-africano das Relações Internacionais e Cooperação na sexta-feira.
O ministério recordou que a África do Sul sofreu “perseguições reais” durante o regime do apartheid (1948-1994) e que o país “trabalhou incansavelmente para evitar que tais níveis de discriminação se repetissem”.
As relações diplomáticas entre os dois países estão tensas desde que Trump ordenou a suspensão da ajuda econômica à África do Sul, em fevereiro passado, acusando o seu governo de “confiscar” terras da minoria africâner.
O caminho rápido para o reassentamento oferecido aos africâneres contrasta fortemente com o processo normal de refúgio nos EUA, que pode levar anos.
O governo Trump também suspendeu praticamente todas as outras admissões de refugiados, por meio de um decreto assinado por Trump como um de seus primeiros atos como presidente.
as/bl (Reuters, AFP, AP, Lusa)