
Criada pela mãe e pelos avós em Itapetininga, Mariangela Hungria, é a primeira mulher brasileira a ganhar o Prêmio Mundial da Alimentação. Nomeação ocorreu na noite desta terça-feira (13) na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos. Mariangela Hungria é uma das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq
Arquivo Pessoal/Mariangela Hungria
Uma pesquisadora, criada pela mãe e pelos avós em Itapetininga, no interior de SP, foi a primeira brasileira a ganhar o Prêmio Mundial da Alimentação, considerado o “Nobel da Agricultura”.
O anúncio do prêmio de Mariangela Hungria, ocorreu na noite desta terça-feira (13) na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos.
📲 Participe do canal do g1 Itapetininga e Região no WhatsApp
“É uma forma de levar uma imagem positiva da sustentabilidade no Brasil, de mostrar que a gente não é só devastação.”
Ela também falou sobre os desafios enfrentados ao longo da carreira, especialmente no início da pesquisa na área biológica da agricultura, quando ainda havia forte resistência ao uso de técnicas sustentáveis.
“Todo mundo dizia que não tinha futuro, que grandes produções só seriam possíveis com químicos e tudo mais. Mas a gente seguiu acreditando.”
Mariangela não esconde o orgulho de suas raízes. Foi no quintal da tradicional Escola Peixoto Gomide, onde a avó lecionava no curso de farmácia, que nasceu sua paixão pela ciência. “Eu falo muito de Itapetininga, da minha avó, da inspiração. Ela sempre foi a minha inspiração.”
Sobre o prêmio
O Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize) foi idealizado por Norman E. Borlaug – vencedor do Prêmio Nobel da Paz, em 1970, por seu trabalho na agricultura global – para homenagear as contribuições para o incremento no suprimento mundial de alimentos.
É um reconhecimento internacional àqueles que trabalham para aprimorar a qualidade, a quantidade ou a disponibilidade de alimentos no mundo.
Concedido anualmente, o WFP foi criado, em 1986, com o patrocínio da General Foods Corporation. O laureado recebe US$ 500 mil e uma escultura projetada pelo artista e designer Saul Bass. Três brasileiros já foram vencedores do prêmio WFP.
Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli dividiram o prêmio com o colega estadunidense, a Colin McClung, pelo trabalho no desenvolvimento da agricultura na região do cerrado.
Em 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e John Kufuor, ex-presidente de Gana, foram os escolhidos por sua atuação no combate à fome como chefes de governo.
Mariangela Hungria engenheira agrônoma pela USP
Arquivo Pessoal/Mariangela Hungria
Trajetória de sucesso
Engenheira agrônoma pela USP, com mestrado e doutorado em ciência do solo, além de pós-doutorados nos EUA e na Espanha, Mariangela soma mais de 500 publicações científicas, já orientou mais de 200 alunos e coleciona prêmios, incluindo a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, o Prêmio Cláudia em Ciências e a inclusão na lista da Forbes como uma das mulheres mais influentes do agronegócio. Recentemente, foi uma das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq.
Desde 1991, Mariangela atua como pesquisadora na Embrapa Soja e também leciona na UEL e UTFPR. Mas destaca que encontrou ainda na infância com a avó a sua maior inspiração: “Ela fazia experiências comigo no quintal, me ensinava com paixão. Esse exemplo foi determinante para a minha trajetória”.
Seu caminho também foi influenciado por Joana Döbereiner, cientista que a contratou e acreditou em seu potencial. De lá para cá, foram vários tipos de reconhecimento obtidos.
Em entrevista recente ao g1, ela já havia falado sobre a valorização das mulheres na ciência e do trabalho com bioinsumos.
LEIA TAMBÉM
Vencedora do 1º Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq defende participação feminina na ciência durante a maternidade: ‘Não pode ser punida por ser mãe’
Mariangela relembra que sua primeira premiação foi fundamental para custear uma viagem ao exterior com as filhas
Arquivo Pessoal/Mariangela Hungria
Mariangela destaca a importância de políticas para incentivar a participação feminina na ciência, especialmente no período da maternidade, quando muitas mulheres são penalizadas pela queda na produtividade acadêmica.
“A mulher não pode ser punida por ser mãe. O início da maternidade é muito idealizado, mas, na prática, é um período desafiador. Se a pesquisadora perde uma bolsa ou um projeto porque teve um filho, isso é um soco no estômago. Precisamos criar mecanismos para que mães pesquisadoras não percam bolsas ou projetos.”
Desde o início da carreira, Mariangela apostou na biotecnologia agrícola, mesmo quando muitos desacreditavam no potencial dos bioinsumos. Hoje, suas tecnologias são aplicadas em milhões de hectares e beneficiam pequenos produtores.
O projeto mais recente, em parceria com uma cooperativa, visa tornar os bioinsumos acessíveis para agricultores familiares. “Essa luta de anos finalmente está dando frutos e pode servir de exemplo para outras cooperativas”, afirma.
Mariangela relembra que sua primeira premiação foi fundamental para custear uma viagem ao exterior com as filhas. Agora, ela deseja retribuir criando uma fundação para apoiar mulheres na ciência, no jornalismo e em projetos sociais.
Confira os destaques do g1:
g1 em 1 minuto: Ford T de 100 anos é preservado por colecionador no interior de SP
Veja mais notícias no g1 Itapetininga e Região
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM