Surto de gripe aviária pode impactar a economia brasileira?

Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, responsável por 35% do comércio mundial. A China, um dos principais compradores, interrompeu a importação do item por 60 dias.A confirmação do primeiro surto de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil já leva países a interromperem a compra de carne de frango brasileira, pressionando o mercado bilionário de exportação do produto.

Em entrevista à TV Globo, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a China interrompeu a compra de carne de frango e derivados produzidos em qualquer região brasileira por ao menos 60 dias.

Há receio que a doença possa comprometer a produção nacional. Mesmo um único foco em uma instalação comercial pode influenciar o abastecimento, já que grandes granjas chegam a abrigar milhões de aves.

O governo afirma que as medidas de contenção e erradicação para debelar a doença e manter a capacidade produtiva do setor já foram tomadas.

O Brasil é atualmente o maior exportador mundial de carne de frango. Em 2024, o país vendeu 10 bilhões de dólares (R$ 56 bilhões) em produtos avícolas, equivalente a 35% do comércio global. Frigoríficos como BRF e JBS distribuem produto para cerca de 150 países.

Em 2023, Japão interrompeu importação

Os primeiros casos de influenza aviária de alta patogenicidade (Iaap) foram identificados entre aves silvestres brasileiras, fora de granjas, em maio de 2023 em pelo menos sete estados. No mês seguinte, o Japão chegou a suspender a compra de aves provenientes do Espírito Santo.

Este, porém, é o primeiro caso a atingir uma granja comercial, o que eleva o risco de impacto econômico. Sempre que uma ave é infectada, todo o plantel da granja é sacrificado para conter a disseminação do vírus. Após o abate, pode levar até um ano para se criar novas aves até a idade reprodutiva.

Nos EUA, por exemplo, um longo surto de gripe aviária vem dizimando galinhas poedeiras desde 2022, o que eleveou os preços dos ovos no varejo a máximas históricas. A doença já matou mais de 169 milhões de aves desde o início de 2022 no país.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, foram registrados 59 surtos em granjas comerciais em fevereiro, 12 em março e três em abril. Países como Japão e França também enfrentam dificuldades para conter a doença.

Setor afirma que situação está sob controle

Associações do setor defendem que o problema é pontual. “Todas as medidas necessárias para controlar a situação foram rapidamente adotadas, e a situação está sob controle e sendo monitorada por órgãos governamentais”, afirmou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) em nota.

Não há evidências de que a doença seja transmitida pelo consumo de carne de frango ou ovos. O risco de infecção humana é baixo e afeta, principalmente, profissionais que têm contato direto com aves infectadas.

O Ministério da Agricultura e Pecuária brasileiro afirmou que o serviço veterinário brasileiro está treinado e equipado para lidar com a doença desde os anos 2000. As ações incluem o monitoramento de aves silvestres, vigilância epidemiológica em criações comerciais e de subsistência, além de capacitação contínua de técnicos.

O CEO da BRF, Miguel Gularte, minimizou o impacto que o caso confirmado na granja de Montenegro pode ter nos negócios, segundo a rede Globo.

“Não é uma situação nova no setor avícola, tivemos no ano passado o Newcastle no Rio Grande do Sul. Temos planos de contingência e, como funcionou na Newcastle, tenho seguro que vai funcionar agora nesse caso isolado”, disse o executivo sobre a doença de Newcastle, enfermidade viral que também acomete aves, em conversa com analistas nesta sexta-feira.

gq/bl (reuters, ap, ots)

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