
As mudanças climáticas já não são uma ameaça futura para o agronegócio. Elas estão redesenhando, em tempo real, o mapa da produção agrícola no Brasil. Os efeitos se espalham pelas lavouras, influenciam preços, afetam empregos e colocam em risco o abastecimento de alimentos no país e no mundo. Dados da Embrapa apontam que o aquecimento global pode deslocar zonas de plantio em até 30% nas próximas décadas. Regiões tradicionalmente produtoras de café, soja e milho já enfrentam instabilidades que comprometem produtividade e qualidade. No Sul, a estiagem recorrente já virou um novo normal. No Centro-Oeste, o atraso das chuvas altera o calendário do plantio. E no Nordeste, o calor extremo afeta a fruticultura irrigada e pressiona os reservatórios. O impacto é direto na economia. Segundo estimativas do Ministério da Agricultura, eventos climáticos extremos causaram perdas superiores a R$ 20 bilhões só em 2023. Além disso, há efeitos indiretos: aumento no custo dos insumos, queda na oferta e, consequentemente, alta de preços para o consumidor.

Ambientalmente, o risco é a expansão desordenada da fronteira agrícola para novas áreas — muitas vezes, à custa de vegetação nativa. Isso gera um efeito em cadeia: mais desmatamento, mais emissões de gases do efeito estufa e maior desequilíbrio do regime de chuvas. O que era causa, vira consequência. O cenário exige resposta rápida. Investimentos em agricultura de baixo carbono, tecnologias de previsão climática, manejo adaptativo do solo e irrigação inteligente são parte da solução. Mas não bastam. É preciso um plano nacional de adaptação que articule governo, iniciativa privada, cooperativas e produtores — com metas claras, financiamento acessível e assistência técnica permanente. O agro brasileiro é uma potência — e pode ser também parte decisiva da solução climática. Mas para isso, precisa se preparar para um clima que já não é mais o mesmo. A sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental: é uma condição para o futuro da produção.