Fabiana Karla descobre habilidades após diagnóstico errado de TDAH; entenda

Nada aquietava a sensação de urgência que acompanhava a atriz e apresentadora Fabiana Karla, de 49 anos, desde a infância. Em 2023, cansada de tentar encaixar essa inquietação em diagnósticos que nunca explicavam tudo, ela resolveu investigar com exames especializados — e o resultado virou sua vida de cabeça para baixo: superdotação.

“Achei que finalmente tinha encontrado a resposta”, relata Fabiana ao lembrar da alegria inicial quando, anos antes, recebeu o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH). A paz, porém, durou pouco. Foi nos bastidores de uma peça, durante uma conversa com o ator Odilon Wagner, que a ficha começou a cair.

Odilon havia participado de um programa de TV ao lado de um especialista em altas habilidades e, ao observar o jeito elétrico da colega, não teve dúvida: talvez houvesse algo além do déficit de atenção.

Fabiana Karla riu, mas ficou com a pulga atrás da orelha. Passou a revisitar lembranças — como o fato de ter pulado o jardim de infância porque já lia e escrevia antes dos colegas do primário. Uma sessão de testes cognitivos, em clínica especializada, confirmou a suspeita: desempenho elevado e facilidade fora da curva para aprender e resolver problemas. “Ouvi no passado que poderia ser superdotada, mas só anos depois comecei a ligar os pontos”, conta.

“Não me considero uma gênia”, faz questão de enfatizar. A atriz, hoje com 49 anos, teme que o rótulo afaste, em vez de aproximar. O que ela quer mesmo é jogar luz sobre a falta de preparo de escolas, empresas e até famílias para lidar com perfis de altas habilidades.

“Sofri a vida inteira com gente que não soube ampliar meus horizontes com essa minha alta habilidade”, desabafa.

Além dos projetos artísticos que mantém em paralelo, Fabiana pretende desenvolver conteúdo sobre altas habilidades e incentivar a capacitação de professores. “É muito difícil falar sobre isso, porque muita gente não está preparada para esse depoimento. Vão achar que estou me sentindo uma gênia, e não é isso”, completa.

Superdotação e TDAH: diferenças, semelhanças e desafios no diagnóstico

A reportagem da IstoÉ Gente conversou com o psicólogo Alexander Bez, especialista em ansiedade e síndrome do pânico pela Universidade da Califórnia, que analisou o quadro de Fabiana Karla. Leia na íntegra:

“É fundamental compreender que habilidades específicas permitem que algumas pessoas realizem tarefas com alto grau de complexidade. Quando essas habilidades estão significativamente acima da média, estamos diante de um perfil conhecido como “altas habilidades” ou superdotação.

Pessoas superdotadas costumam apresentar desempenho excepcional em áreas como criatividade, aprendizado, memória e resolução de problemas. Uma das características mais marcantes é a curiosidade excessiva, acompanhada de um interesse acentuado por temas complexos.

Contudo, nem todos os superdotados são gênios, o que muitas vezes leva à incompreensão por parte da família e da escola. A ausência de comportamentos “esperados” para pessoas altamente inteligentes pode dificultar a identificação correta do perfil, resultando em diagnósticos equivocados ou atrasados.

Há, inclusive, semelhanças comportamentais entre a superdotação e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), como a intensidade emocional, a desatenção para assuntos desinteressantes e a aparente desmotivação. No entanto, é importante destacar que a superdotação não é considerada um transtorno, mas uma condição neurológica caracterizada por habilidades cognitivas acima da média e desempenho elevado em áreas específicas. Já o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, com critérios clínicos definidos.

Apesar das diferenças, ambos os perfis podem apresentar sintomas como ansiedade, inquietação, conflitos interpessoais e sofrimento emocional, especialmente quando não há o devido suporte.

O perfil desafiador é bastante comum entre superdotados, enquanto a desatenção generalizada é mais característica do TDAH.

A identificação da superdotação geralmente envolve a aferição do Quociente de Inteligência (QI). Um QI superior a 180 é considerado nível de gênio; entre 150 e 179, inteligência privilegiada; e acima de 120, superinteligência. No entanto, mais do que números, é essencial observar o comportamento, o interesse e a capacidade de resolução de problemas desde cedo.

O diagnóstico correto exige avaliação multidisciplinar, incluindo psicólogo, neurologista e psiquiatra, para descartar outras condições e oferecer o suporte adequado ao desenvolvimento da criança.”

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