Trilhas Amazônicas: Educação na floresta alerta para a crise climática

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Neste penúltimo episódio do podcast Trilhas Amazônicas traremos exemplos de iniciativas na área de educação que buscam conscientizar, em primeiro lugar, os povos da floresta. Mas também quem vive nas áreas urbanas da região amazônica. Vamos começar pelos ribeirinhos, ou beradeiros, que são afetados diretamente pelas cheias e secas dos rios, a cada dia mais intensas.

Na comunidade do Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, no município de Iranduba no Amazonas , funciona um dos núcleos de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável, da Fundação Amazônia Sustentável , uma organização sem fins lucrativos.

A Alberta Pacheco, que é técnica em meio ambiente é a atual gestora deste núcleo: “O núcleo é um espaço de apoio, de acesso a políticas públicas, que a gente leva para dentro das unidades de conservação.”

O trabalho de Alberta é voltado para crianças, jovens e adultos que estão cursando o ensino fundamental e médio. Cerca de 380 estudantes já passaram pelo projeto desde 2010. A conservação da floresta é um dos pilares das atividades. Nelas, a Amazônia é uma grande sala de aula, onde se desenvolvem a equidade, a justiça, o respeito, a ética e a liberdade das pessoas que vivem na floresta. E ela conta que os alunos são engajados no aprendizado:

“Agente tem vários jovens hoje, nossos alunos que são, assim, lideranças que representam a nossa escola em congressos, em eventos sobre mudanças climáticas.”

Já na escola indígena em Rondônia, no município de Cacoal, encontramos a professora indigenista mineira, a Maria do Carmo Barcellos, que é conhecida como Maria dos Índios. Ela se instalou na Amazônia há quase 50 anos para viver com os Paiter Suruí. Maria se mudou para o interior de Rondônia em 1976, no auge da ditadura militar e da ideia de colonização dos territórios amazônicos. Ela tinha 26 anos de idade e começou a atuar como professora, mas o trabalho com os indígenas se desenvolveu em outras frentes com o passar do tempo e é reconhecido e valorizado, como os projetos que envolvem educação de crianças, jovens e professores indígenas.

“ O meu trabalho, ultimamente, ele tem sido voltado para processos formativos, fortalecendo a capacidade dos professores indígenas e suas escolas, especialmente sobre o tema da governança territorial na interface com as mudanças climáticas. A gente conseguiu fazer um trabalho numa área ampla, em oito territórios, com esses professores, e produzir materiais interessantes para facilitar o trabalho dos professores na sala de aula. Podendo desenvolver uma metodologia que privilegia a interdisciplinaridade e a interculturalidade. Então a gente produziu livros, um para cada povo, porque cada povo tem uma história.”

Os livros citados por Maria dos Índios são fruto do diálogo entre os saberes tradicionais e os saberes científicos, para tratar da crise climática. Cada livro foi adaptado para as diferentes cosmologias, incluindo, por exemplo, uma parte sobre o “surgimento das coisas”, para explicar como cada povo indígena fala sobre a origem do Sol, da Lua, dos seres humanos.

Partindo do princípio de que a educação e o conhecimento vão muito além de disciplinas formais da escola, vamos agora para Alter do Chão, no Pará, onde um grupo de brigadistas voluntários mobiliza a comunidade para adquirir técnicas que consigam dar uma resposta imediata aos incêndios florestais na região.

O Daniel Gutierrez, produtor audiovisual e brigadista voluntário, explica que as brigadas são organizações independentes que atuam para dar a primeira resposta aos incêndios.

O grupo começou em 2017, em 2018 o primeiro grupo foi estudar sobre incêndio florestal.

“A gente fez um curso com a defesa civil daqui da região, com os bombeiros militares e aí a gente se formou brigadista … Aí em 2019 a gente promoveu um curso ministrado pelos bombeiros militares também, mas aí a gente produzindo, a gente captando grana também, pra fazer, e aí a gente formou 16 brigadistas.”

O fogo não espera a burocracia, mas o trabalho, mesmo voluntário, precisa passar por várias etapas até chegar no efetivo combate ao incêndio florestal.

Apesar do trabalho majoritariamente voluntário, os brigadistas tiveram de lidar com opositores poderosos. Em novembro de 2019, quatro deles, incluindo Daniel, foram presos, acusados de terem causado o incêndio que atingiu a Área de Proteção Ambiental Alter do Chão. Por falta de provas, o inquérito foi arquivado e o processo foi extinto na Justiça.

No próximo episódio, vamos falar das ações educativas para conscientizar os moradores da floresta e das áreas urbanas sobre a importância do cuidado com o meio ambiente.

O podcast Trilhas Amazônicas é uma parceria entre a Agência Brasil e a Radioagência Nacional. A série abre o ano da Trigésima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, a ser realizada em Belém, em novembro. Serão sete episódios publicados toda sexta-feira na Radioagência Nacional e nos tocadores de áudio.

No último episódio da série, vamos trazer um pouco de esperança no futuro, com os jovens ativistas que estão assumindo a luta contra a crise climática.

*A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDxAmazônia 2024. 

PODCAST Trilhas AmazônicasEpisódio 6: Educação e crise climática

VINHETA: Trilhas Amazônicas

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: Diante de eventos extremos como secas e inundações cada vez mais frequentes, como as populações amazônicas lidam com a educação voltada para a proteção do meio ambiente? Eu sou Rafael Cardoso, repórter da Agência Brasil, e chegamos ao penúltimo episódio do podcast Trilhas Amazônicas. Nas últimas semanas, trouxemos desafios e soluções encontradas para enfrentar a crise climática no maior bioma do Brasil. Vimos que qualquer mudança na Amazônia tem potencial para impactar o clima mundial.

RAFAEL: Hoje, traremos exemplos de iniciativas na área de educação que buscam conscientizar, em primeiro lugar, os povos da floresta. Mas também quem vive nas áreas urbanas da região amazônica. Vamos começar pelos ribeirinhos, ou beradeiros, que são afetados diretamente pelas cheias e secas dos rios, a cada dia mais intensas.

ALBERTA: Eu me chamo Alberta Pacheco, minha formação é técnico em meio ambiente. Atualmente estou como gestora do núcleo da FAS na comunidade do Tumbira, RDS do Rio Negro, município de Iranduba.

RAFAEL: O núcleo que a Alberta fala é o de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável, da Fundação Amazônia Sustentável, a FAS, uma organização sem fins lucrativos. RDS é a sigla para Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Iranduba fica no estado do Amazonas.

ALBERTA : O núcleo é um espaço de apoio, de acesso a políticas públicas, que a gente leva para dentro das unidades de conservação. Então, basicamente, o meu trabalho na comunidade é fazer essa relação entre fundação e parceiros locais, que no caso é comunidade, prefeitura, os outros parceiros que levam as atividades pra dentro da reserva. Hoje a gente trabalha facilitando a chegada dessas políticas públicas dentro da RDS, que é a Resex.

RAFAEL: O trabalho de Alberta é voltado para crianças, jovens e adultos que estão cursando o ensino fundamental e médio.

ALBERTA : Na área de educação, no núcleo do Tumbira, a gente trabalha em parceria com o governo do estado, então a fundação leva os projetos de contraturno que são os projetos complementares e o governo do estado, que no caso é a Seduc, ela dá o ensino formal. Então o ensino na comunidade ele é mediado por tecnologia, que basicamente funciona tendo um professor no centro de mídia, que é transmitido através de uma televisão, pela internet. Aí fica um professor presencial, esse professor presencial faz essa ligação entre o aluno e o centro de mídias. Então, quando o aluno tem alguma dúvida, o professor presencial faz essa ligação e o aluno consegue tirar as dúvidas dele em tempo real. A gente atende o fundamental 2, que vai dos 12 até 15 e o ensino médio.

RAFAEL: Os estudantes participam dos projetos no contraturno das aulas. São trabalhados temas como educação midiática, leitura e agroecologia.

ALBERTA: Dentro dos nossos projetos complementares, a gente tem um projeto que trabalha a educomunicação, que é o Repórter da Floresta, a gente tem um projeto que é o Incenturita, que trabalha a leitura e a escrita, a gente tem práticas agroecológicas, que a gente trabalha a questão de produção de hortaliças, criação de aves. E tudo isso que a gente trabalha com os alunos no contraturno é levado para o complemento da merenda escolar. Então, acho que de todos os projetos que a gente leva a complementar, esse de práticas agroecológicas é o que mais, assim, a gente foca por conta de a escola estar dentro de unidades de conservação. Então, para a gente evitar que chegue para merenda escolar algo que não condiz com a realidade dos nossos alunos, né? Uma merenda mais saudável.

RAFAEL: Cerca de 380 estudantes já passaram pelo projeto desde 2010. A conservação da floresta é um dos pilares das atividades. Nelas, a Amazônia é uma grande sala de aula, onde se desenvolvem a equidade, a justiça, o respeito, a ética e a liberdade das pessoas que vivem na floresta.

ALBERTA: A gente procura, ao ano inteiro, sempre fazer palestra com os alunos, momentos de reflexão mesmo, rodas de conversa e debates sobre, pra questão de soluções, de ver o que o jovem hoje pode fazer para que, futuramente, a gente possa minimizar esses efeitos que a gente está sofrendo hoje. Mas a escola, em relação a isso, ela é bem engajada, né, a gente tem vários jovens hoje, nossos alunos que são, assim, lideranças que representam a nossa escola em congressos, em eventos sobre mudanças climáticas. Então, a fundação, juntamente com a secretaria, que é a SEDUC, a gente tenta sempre trabalhar essa conscientização dos alunos, sabe? Por conta de que o futuro depende da gente, né? Principalmente da gente que mora dentro de comunidade. Moramos dentro de reserva, que a gente vivencia isso, né? Muitas das vezes a gente vê um impacto quando já está seco, né? Mas quem vive dentro da floresta, a gente sofre o impacto diariamente.

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: Vamos sair da escola no igarapé de Tumbira para uma escola indígena em Rondônia, no município de Cacoal, onde uma professora mineira se instalou há quase 50 anos para viver com os Paiter Suruí.

MARIA: Meu nome é Maria do Carmo Barcellos e meu apelido é Maria dos Índios. Eu sou na verdade educadora, sou licenciada em geografia e sou indigenista por experiência, né, 52 anos no trabalho com povos indígenas.

RAFAEL: Maria se mudou para o interior de Rondônia em 1976, no auge da ditadura militar e da ideia de colonização dos territórios amazônicos. Ela tinha 26 anos de idade e começou a atuar como professora, mas o trabalho com os indígenas se desenvolveu em outras frentes com o passar do tempo e é reconhecido e valorizado, como os projetos que envolvem educação de crianças, jovens e professores indígenas.

MARIA: O meu trabalho, ultimamente, ele tem sido voltado para processos formativos, fortalecendo a capacidade dos professores indígenas e suas escolas, especialmente sobre o tema da governança territorial na interface com as mudanças climáticas. A gente conseguiu fazer um trabalho numa área ampla, em oito territórios, com esses professores, e produzir materiais interessantes para facilitar o trabalho dos professores na sala de aula. Podendo desenvolver uma metodologia que privilegia a interdisciplinaridade e a interculturalidade. Então a gente produziu livros, um para cada povo, porque cada povo tem uma história. A gente não produziu esses materiais na língua, porque as línguas ali naquela região, nenhuma delas está sistematizada, então o português, na verdade, é a língua que eles têm usado.

RAFAEL: Os livros citados por Maria dos Índios são fruto do diálogo entre os saberes tradicionais e os saberes científicos, para tratar da crise climática. Cada livro foi adaptado para as diferentes cosmologias, incluindo, por exemplo, uma parte sobre o “surgimento das coisas”, para explicar como cada povo indígena fala sobre a origem do Sol, da Lua, dos seres humanos.

MARIA: Nesse material, nas escolas, a gente aborda as mudanças climáticas, tem uma pegada intercultural, partindo do conhecimento tradicional, dos saberes tradicionais para o conhecimento científico, né. Então, a gente começa a falar dessa história das mudanças climáticas buscando os sinais da natureza que os antigos, e eles também ainda sabem, mas vão esquecendo, então levantando os sinais da natureza. Por exemplo, quando as cigarras estão cantando muito, a chuva vem, não é? Quando o sapinho não sei o que, coaxa muito, vem a chuva, ou vai chegar a seca. Ou quando tem um círculo em volta da lua. Então, assim, a gente começa a partir daí, não é? E a partir daí a gente começa a buscar o entendimento, especialmente que os mais velhos têm, né. No material tem uma coisa muito de trabalho interativo, de atividades que as crianças têm que buscar a resposta. A resposta não está ali, então tem muita atividade. Então elas vão buscar no saber tradicional. Então tem muita atividade que faz com que as crianças saiam da sala de aula e vão buscar as respostas ali.

RAFAEL: Ciente de que a crise climática é um desafio de longo prazo, Maria entende que o investimento nos mais jovens é importante para que as próximas gerações assumam a liderança na defesa da Amazônia.

MARIA: O material, a gente busca, essa coisa das crianças procurarem o saber dos mais velhos e na própria observação das coisas. Porque um dos objetivos é que essas crianças possam desenvolver um senso crítico, que elas possam, sabe, elaborar as respostas, né? Porque seguramente elas vão estar aí sendo os imediatos gestores em seus territórios. E as pressões são muitas. Elas foram, são e vão continuar sendo. Mesmo que o movimento indígena esteja assumindo maravilhosamente seu protagonismo, ganhando espaço no mundo, os problemas vão continuar. E as soluções vão ter que ser encontradas, vão ter que ser buscadas, não é?

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: Partindo do princípio de que a educação e o conhecimento vão muito além de disciplinas formais da escola, vamos agora para Alter do Chão, no Pará, onde um grupo de brigadistas voluntários mobiliza a comunidade para adquirir técnicas que consigam dar uma resposta imediata aos incêndios florestais na região.

DANIEL: A gente começou um movimento em 2017, em 2018 a gente surgiu mesmo como brigada. A gente começou a perceber que faltava uma primeira resposta para os incêndios florestais que estavam acontecendo. E pequenos incêndios também por aqui, assim, de terreno, na vila. E a gente começou a se incomodar e correr atrás pra ajudar a comunidade e com isso a gente foi estudar incêndio florestal, a gente fez um curso com a defesa civil daqui da região, com os bombeiros militares e aí a gente se formou brigadista com eles, né? E desse curso a gente saiu como brigada de Alter. Ainda com poucas pessoas, assim, tipo seis, né? Aí em 2019 a gente promoveu um curso ministrado pelos bombeiros militares também, mas aí a gente produzindo, a gente captando grana também, pra fazer, e aí a gente formou 16 brigadistas. E aí continuamos o trabalho, né?

RAFAEL: Esse é o Daniel Gutierrez, produtor audiovisual e brigadista voluntário. Ele explica que as brigadas são organizações independentes que atuam para dar a primeira resposta aos incêndios. Assim como cada prédio grande é obrigado a ter um corpo de brigadistas para atuar em casos de princípio de fogo, nas áreas de mata e reserva extrativista, esse trabalho também é fundamental para auxiliar os órgãos oficiais na primeira resposta. Já que o fogo, claro, não espera um ofício burocrático para se espalhar.

DANIEL: Porque o governo nunca vai ter braço suficiente. É muito caro você deslocar alguém de Brasília, ou mesmo daqui. Para a gente ir lá no Resex, é caro, demora, e nisso o fogo já tá torando lá. O ideal é que dentro da Resex, nas 72 comunidades, cada uma tenha uma brigada e que quando o fogo começa, ela vai lá e resolve. Se ela não resolver, ela chama ajuda de fora, né. A gente fala, a gente aprendeu isso com os bombeiros. Todo incêndio florestal, quando começa, você pode apagar com o pé, porque todo fogo começa pequeno. Então, as brigadas que estão nos territórios são as melhores ferramentas pra que esse incêndio não vire um grande incêndio.

RAFAEL: O fogo não espera a burocracia, mas o trabalho, mesmo voluntário, precisa passar por várias etapas até chegar no efetivo combate ao incêndio florestal.

DANIEL: Bom, a gente funciona, até pela lei do MIF, com o acionamento do poder público. Então, teoricamente, os bombeiros têm que acionar a gente para ajudar em algum lugar, fora das unidades de conservação, né. E dentro das unidades de conservação a gente tem o acionamento do ICMBio, ou do IBAMA Previ-Fogo, ou da FUNAI. Por exemplo, se for uma terra indígena, a FUNAI manda um ofício solicitando a nossa presença lá. Então a gente recebe chamados, assim, até da comunidade. A comunidade fala, poxa, está aqui pegando fogo no terreno do vizinho e a gente se comunica com o poder público, né, vai lá na sede dos bombeiros, avisa eles que a gente está indo e vai. O ideal para a gente é que a gente tenha um termo de cooperação, é isso que a gente está lutando agora, com o poder público. Então, poder público estadual, os bombeiros, a gente tem um termo de cooperação com eles, a gente vai criar uma metodologia de acionamento. Então eles vão acionar a gente através de um ofício, a gente vai. Hoje, eles não fazem isso. É o contrário, a gente que vai falar com eles. O que a gente quer chegar é que seja uma via de mão dupla. Principalmente com os bombeiros. O que já funciona assim, com a forma ideal, que é o acionamento por ofício, é com o ICMBio.

RAFAEL: MIF é o Manejo Integrado do Fogo, previsto na lei sancionada em 2024 que implementa a Política Nacional do setor, envolvendo as três esferas de governo. Entre as iniciativas previstas está a instalação do Comif, o Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo, para coordenar as ações dos governos e da sociedade civil.

DANIEL: A gente está nessa luta para que o poder público municipal, Secretaria de Meio Ambiente; estadual, bombeiros; e federal, ICMBio, Ibama Previo Fogo e FUNAI, a gente crie isso, que é o que está sendo discutido lá no Comif, no comitê lá da lei, como vai ser esse acionamento para as brigadas voluntárias do Brasil. Então a gente sente muita falta de que o governo nos enxergue e enxergue o trabalho que a gente está fazendo, porque, exemplo, a gente tem hoje seis brigadas voluntárias nível 2, aqui no Baixo Tapajós. Nível 2 é treinada e equipada. Que eles entendam que essas brigadas sejam uma ferramenta. A gente não quer substituir o governo, a gente quer trabalhar junto com eles. E a gente, que está nos territórios, temos as melhores condições para dar a primeira resposta num incêndio florestal.

RAFAEL: Apesar do trabalho majoritariamente voluntário, os brigadistas tiveram de lidar com opositores poderosos. Em novembro de 2019, quatro deles, incluindo Daniel, foram presos, acusados de terem causado o incêndio que atingiu a Área de Proteção Ambiental Alter do Chão. Por falta de provas, o inquérito foi arquivado e o processo foi extinto na Justiça.

DANIEL: A gente foi criminalizado, depois do grande incêndio aqui de Altar do Chão, que a gente atuou muito. Inclusive a gente participava da sala de situação do comando de incidente, junto com o poder público. Mas no final, depois de dois meses, a Polícia Civil veio na minha casa e no mesmo dia eu estava no presídio, acusado de provocar aquele incêndio para vender imagens pra WWF com a ajuda do Saúde Alegria e meio a mando do Leonardo Di Caprio. Bizarro, né? Mas a gente entende que são várias camadas o porquê disso. A principal delas é a extrema direita querendo criminalizar a sociedade civil, né.

RAFAEL: Na luta pela preservação da Floresta Amazônica, os brigadistas de Alter do Chão tentam conscientizar a população para o uso correto do fogo, aliando os saberes tradicionais com as mudanças já perceptíveis no clima.

DANIEL: O fogo é uma ferramenta ancestral. Nas comunidades, em meios rurais, da Amazônia principalmente, que é onde eu conheço mais, o fogo é uma ferramenta ancestral. Então, é o que a gente chama de fogo bom. O fogo bom é uma roça. Então, a pessoa lá da comunidade, da aldeia, vai queimar uma área de 30 por 30 lá, que é uma tarefa que eles falam, pra plantar mandioca. A mandioca, ela se beneficia do fogo, desse ciclo até, né? O ideal, claro, seria agrofloresta, mas enfim. Mas pra fazer a roça, precisa fazer a roça direito, com acero em volta. Eles sabem fazer. Eles sabem fazer fogo. E sabem como é que controla. Aí eu vejo dois problemas hoje. Está muito seco. Então o fogo que não pulava antes para determinada área, agora pula. E eles estão em menos, tem menos interesse, tem menos gente no puxirum, no mutirão. Puxirum é mutirão. Então, sei lá, se nos anos 50 tinha 10 famílias juntas lá fazendo a roça, hoje não tem tanta gente cuidando junto.

RAFAEL: Se o fim do mundo não chegou ainda, as mudanças climáticas estão aí há algum tempo para alertar.

ALBERTA : Secou muito e a comunidade do Tumbira, ela fica dentro de um igarapé, não tinha como fazer o transporte dos alunos, porque a escola, além de ela ficar na comunidade do Tumbira, ela atende cinco comunidades ao entorno. Então, o transportador não conseguia fazer esse transporte dos alunos até a escola. Aí, por decisão da secretaria, as aulas ficaram remotas. Então, prejudicou a educação, por conta que a gente não conseguiu fechar o calendário com as aulas presenciais. E a comunidade em si, por conta do turismo, né. Porque o que gera renda dentro da comunidade é o turismo. Então, praticamente na parte que seria a alta temporada para a gente aqui, com a seca extrema, o turismo parou.

PASSAGEM🎶 

MARIA: Eles falam muito, a coisa do impacto na pesca, porque mortandade de peixes muitas vezes, porque talvez a água tenha se aquecido mais. Depois, determinadas plantações que já perderam a noção, isso aqui florescia em tal época, agora não, está bagunçado, a gente não sabe, os periquitos ficam cantando de madrugada, por exemplo, né.

PASSAGEM🎶 

DANIEL: O que falta para mim é a conversa entre os níveis de governo. Então, falta a conversa da Secretaria de Meio Ambiente Municipal com o Estado, falta a conversa do Estado com o Federal, que é a ICMBio e Ibama, e aí falta conversa com os brigadistas voluntários, que hoje são mais de 200 brigadas no Brasil. A gente está muito ativo nessa luta. Então, eu acredito que o próximo passo aí do Plano Nacional do Manejo Integrado do Fogo, seja exatamente essa, criar essa cooperação entre a sociedade civil e os estados, os três níveis de estado que a gente tem, municipal estadual e federal.

RAFAEL: Como diz o pensador e escritor indígena Ailton Krenak, ideias para adiar o fim do mundo existem. Mas falta a decisão política de implementá-las.

SOBE SOM 🎶 

CRÉDITOS

RAFAEL: O podcast Trilhas Amazônicas é uma parceria entre a Agência Brasil e a Radioagência Nacional, dois serviços públicos de mídia da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC.

A série abre o ano da Trigésima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que vai ser realizada em Belém, em novembro.

A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDx Amazônia 2024.

A reportagem, entrevistas e apresentações foram minhas, Rafael Cardoso.

Adaptação, roteiro, edição e montagem de Akemi Nitahara.

Coordenação de processos e supervisão de Beatriz Arcoverde, que também faz a implementação web junto com Lincoln Araújo.

Mara Régia gravou a vinheta e os títulos dos episódios.

A trilha sonora original foi composta para nós por Ricardo Vilas.

Também utilizamos a música Japurá River, de Uakti e Philip Glass.

Identidade visual da equipe de arte da EBC.

RAFAEL: No último episódio da série, vamos trazer um pouco de esperança no futuro, com os jovens ativistas que estão assumindo a luta contra a crise climática.

SOBE SOM 🎶 

Em breve

Reportagem, entrevistas e apresentação

Rafael Cardoso
Edição, roteiro, adaptação e montagem Akemi Nitahara 
Coordenação de processos e supervisão

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design:

Caroline Ramos

Interpretação em Libras: Equipe EBC
Implementação na Web:

Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde

Trilha sonora original Ricardo Vilas
Locução da vinheta e títulos dos episódios Mara Régia
Música Japurá River  Uakti e Philip Glass
Youtube Luciana Gatti em reunião da Comissão Especial de Prevenção e Auxílio a Desastres Naturais da Câmara, março de 2024.

 

Trilhas Amazônicas ep 6 Educação e crise climática

© Arte EBC

Meio Ambiente Podcast mostra iniciativas educacionais que conscientizam e preservam Rio de Janeiro 25/04/2025 – 07:15 Beatriz Arcoverde – Editora Web Rafael Cardoso e Akemi Nitahara rilhas Amazônicas Podcasts Radioagência Nacional Especiais crise climática mudanças climáticas Educação sexta-feira, 25 Abril, 2025 – 07:15 20:57

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